outubro 30, 2004
Comentário sem paciência para o contraditório
Chegamos a uma altura do ano em que grandes empresas nacionais, por inconfessáveis desígnios (mas que talvez possamos associar à aproximação da época natalícia ou, mesmo, como algum ritual pós-moderno das celebrações do Solstício) desatam a anunciar em parangonas jornalísticas e alto brado televisivo, lucros que oscilam entre o fabuloso e o homérico...
Fala-se aqui, principalmente, daquelas empresas, ditas de serviços (ou pouco mais ou menos), de capitais públicos (ou pouco mais ou menos), que alucinogénicos conceitos de gestão vão privatizando (ou pouco mais ou menos), mas cujos gestores se mantêm, reverencialmente (ou pouco mais ou menos), ligados umbilicalmente à tutela estatal.
Entenda-se que também se poderia falar aqui das empresas todas privadas, coitadinhas, já privadas à nascença, e respectivos gestores (ou pouco mais ou menos) que mantêm a mesma ligação ardente e reverencial ao estado, apesar de passarem a vida a vender o artigo de que são independentes à brava... Vejam-se os contornos do recente caso prof. Marcelo versus Media-Capital, no caso de subsistirem dúvidas quanto àquela grande e indesmentível verdade que é: em Portugal, somos todos primos.
O próprio estado nos faz saber, com alegria, que já captou, até Agosto, as receitas previstas nos combustíveis até ao fim do ano. Viva, pois, o aumento do preço do petróleo e Deus queira que ele se mantenha, para que mestre Bagão não tenha de nos vender os anéis.
Tudo isto seria bom e todos incharíamos de ímpetos patrióticos e cachecóis verde-rubros, nas enormíssimas filas de trânsito entre a casa e o emprego, se não andassem a pregar-nos, vai para dois anos e tanto, que estamos atascados na mais inominável crise ou na mais pungente recessão económica. Uma e outra com origens no hediondo mundo capitalista em que vivemos – por azar nosso, mas que fazer?... – e às quais, crise e recessão, não é estranha a peculiar habilidade dos nossos governantes para as agravar até aos limites do absurdo.
E a nossa sacrossanta ingenuidade esperaria que, pelo menos, houvesse algum pudor, algum recato... Aquilo a que a populaça chama “um mamar doce”. Mas não. Com um sadismo gritante e um autismo esclarecedor, alegadas razões “de mercado” levam-nas a exporem-se, desavergonhadas e putas, em hasta pública, fazendo alarde do espólio sugado e atirando-o às trombas perplexas e basbaques do Zé Povinho, o único, afinal, que vive com a recessão e dorme com a crise.
Poderá, mesmo, admitir-se – e nem será por absurdo - que este estado de embrutecimento deve permanecer indefinidamente, a bem da economia nacional!... Haja coragem política para o assumir e talvez se faça escola.
Assim, a única coisa que me consola é não perceber nada (ou pouco mais ou menos) de Economia e Finanças, o que me confere um estatuto muito próximo do asno a quem, no estábulo da recessão, continua a ser apenas permitido retouçar nas palhinhas da crise, enquanto estas empresas de brincalhões medalhados no pueril jogo do Monopólio anunciam com despudor insultuoso os tais lucros de bradar aos céus e aos infernos, com os quais se compram, com carros, gasolinas, cartões de crédito e sabe-se lá que mais, aqueles de entre nós que estão sempre prontinhos para vender a alma ao diabo, a troco de um lugar no céu.
Como é diferente a crise, em Portugal...
outubro 28, 2004
Porque o nosso futuro também passa por termos presente o nosso passado
A casa onde Almeida Garrett viveu e morreu, nos nº 66 e 68 da Rua Saraiva de Carvalho, em Lisboa, encontra-se em risco iminente de destruição, o que terá três consequências graves:
1. Lisboa perderá mais uma casa antiga de indiscutível valor estético e histórico.
2. Abrir-se-á um precedente grave na manutenção da traça daquela rua de Lisboa.
3. Perder-se-á a oportunidade de termos em Lisboa uma casa-museu de Almeida Garrett.
Segundo entendidos na matéria, esta casa charmosa, apesar de aparência simples, "tem uma cobertura azulejar em losangos azul e branco, com interiores luminosos, de gosto romântico com estuques brancos, proporções elegantes e móveis clássicos, sobretudo do século XVII", e nunca deve ser demolida.
POR FAVOR ASSINE E PASSE PALAVRA: www.petitiononline.com/casaag/
Falemos de coisas sérias: o ABC Dos Miúdos
Pois é. Enjoado de nojeiras e farto de fantochadas, ergui os olhos ao céu e, mesmo com tempo chuvoso, dei de caras com o ABC Dos Miúdos... e lavei a minha alma.
(Entenda-se, claro, todas estas religiosices em sentido metafórico. Mas há momentos em que estes tiques culturais nos saltam para melhor nos exprimirmos... E quem não apreciar, paciência, passe por cá mais logo.)
Vem a conversa a propósito do blog que aqui tenho o prazer de vos anunciar: o ABC Dos Miúdos, cuja autora é a minha "madrinha de blog", a Thita (uma história que já contei, em tempos).
Visitem-no. Colham a vossa opinião. E, se ela for tão positiva quanto a minha, divulguem-no. Pelo exemplo solidário. Pelo empenho.
E, até, se vos der na veneta, colaborem.
Porque ali não se espera pelos amanhãs que cantam. Canta-se hoje mesmo, que amanhã é outro dia.
(Como curiosidade adicional - e só para aqueles que não a conheçam - tentem adivinhar a idade da autora...)
Entretanto, façam-me todos o grande favor de ser felizes!
outubro 25, 2004
Croniqueta datada
- De escárnio, talvez; de maldizer, seguramente... que isto vai um tempo que é uma pouca vergonha ou, como diria a santa avozinha: está o mundo roto, chove nele como na rua...
Há um túnel que descai e um outro que se esvai nesta capital do mundo
Há um metro já sem fundo e no ar um cheiro assaz preocupante pelo gás
Posto a eito em cada casa
Faltará um golpe de asa p’rà solvência destes males e mais que esperam que cales
Das estradas às portagens dos impostos às sondagens fica-se o país a esmo
Entre o pasmo e o marasmo
Para o gozo dos meninos que entre salmos e hinos vão aldrabando os papalvos
À espera de serem salvos
Pois a santanal figura
Improvável criatura de espavento e arrebiques
Governará lá os chiques butiques ou passarelas
Tias fingidas donzelas
Mas que faz ele ao país que distrata e que desdiz?
Vira-o dos pés p’rà cabeça em pressas de fogo à peça!
Faz disto a terra dos tolos e entre papas e bolos
Da cultura faz pepinos ou dos teatros casinos
De nada sabendo tudo
Faz do país um Entrudo e com o seu ar de maçada
De tudo faz palhaçada
Que falta nos faz O’Neil e Ary e outros mil
Para zurzir forte esta seita neste entremês de maleita
Talvez mesmo um Herculano a causar-lhes sério abano
Um Eça e mais um Ramalho a demolirem a malho
A corja fandanga e vil que vende ao retalho Abril
Se eles não estão
Estamos nós
Vai de aclarar a voz em gritos de fundo d’alma
Pois sabe-se que da espera nela ficar desespera
Doentia é esta calma com que pasmamos dolentes
Perdidos de ocidentes
Cabisbaixos contristados
Ao céu e ao mar especados
Parece até que apetece dizer de quanto acontece
Que nós por cá todos bem
Esperando que Belém
Em dia de inspiração
Se arvore em D. Sebastião...
Ou então em Pai Natal já que neste Carnaval
Ninguém leva nada a mal.
outubro 22, 2004
Dos caminhos da Utopia
Porque insistimos, tantos de nós e tantas vezes, em nos perdermos da utopia?
Não que alguém nos force, ainda que tantas sejam as forças adversas.
Não que desgostemos, ainda que sejam árduos os caminhos que a ela nos conduzem.
Apenas porque sim.
Porque é mais fácil deixarmo-nos amodorrar no declive dos dias, resvalando para esse estado letárgico, muito próximo da morte-em-vida, ainda que sem casulo ou, até, caixão que nos resguarde.
E, então, correm-nos as lágrimas pela face, pela tristeza de não sermos.
Outros há que escondem a cabeça no ninho de folhas que amontoaram e esgravatam, aves sem pena, enlouquecidas e ensimesmadas, até sem aperceberem que alguns dos gravetos que assim lançam, pelos ares e sem critério, embatem, crudelíssimos, naqueles que, à sua volta, vão passando.
Outros haverá...
E, afinal, no supermercado da vida, a oferta é variada:
- ele há as utopias do eterno retorno, atingindo nós, de cada vez, patamares mais elaborados de vivências, cada um deles mais subtil e encantatório;
- ele há a demanda da ilha-paraíso (o perdido, que se quer reencontrar) onde o néctar brota das fontes vinte e cinco horas por dia, onde as flores são as nossas roupas e tudo o mais está à distância ténue de um suspiro;
- ele há, ainda, a utopia do futuro, esse horizonte que de nós se afasta por cada passo da jornada e em igual proporção, mas de que não devemos abdicar pois que “o caminho se faz caminhando” e a beleza da vida deve ser encontrada, apenas e só, em cada uma das passadas;
- ele há, também, mais hodierna, essa utopia, sem tempo nem lugar, cibernáutica, internética, onde o Homem pode afirmar a sua individualidade, liberto enfim dos grilhões estreitos da Biologia...
Pois assim é, uma autêntica cebola da qual retiramos capa a capa, os olhos marejados de lágrimas que - e muito conveniente é que assim o seja... - hão-de ser de alegria!
NOTA IMPORTANTE: Em Portugal, algumas tentativas de criação de caminhos para a utopia têm, incompreensivelmente, tropeçado com aquilo que reputados cientistas caracterizam como "amolecimento do neurónio". Claro que, assim, tudo se torna mais difícil...
O exemplo abaixo ilustra uma dessas tentativas:
outubro 19, 2004
Coitado do consultor...
Tenho-me debatido, de há uns tempos a esta parte, com uma espécie de fauna que assola o meu local de trabalho - corpos estranhos à empresa - que presumem dominar, numa escassa semana, o que todos os demais mortais levaram anos a fio a aprender. E, para além de serem assim inteligentes e espertos, estão sempre munidos de soluções milagrosas que passam, invariavelmente, pela "diminuição de recursos humanos" e que esgrimem contra o bom povo trabalhador, numa versão nova-vaga dos cavaleiros do Apocalipse.
Ah, já me esquecia.... Invariavelmente, também, eles e elas vestem de cinzento!
Apeteceu-me "cantá-los"...
Coitado do consultor
Estimável criatura que espiolha pela empresa
Com o empenho e a certeza
Do piolho na costura
Coitado do consultor
Que simula
Estimula
Puxa a carroça na praça com o empenho da mula
Sabe tudo sem saber que só se safa na praça
Porque na praça não passa sequer vestígio de mula
E passa ele - oh desgraça -
Pois que ficou a carroça e a mula foi a abater
Coitado do consultor
Que consulta pela gula de quem lhe paga melhor
Com certezas de saber
De nada tudo
E valer
De tudo nada saber
E faz de tudo a correr
Tira homem
Põe mulher
Muda o móvel se calhar
Para tudo render mais
E dizer logo depois em esquemas racionais
Que para a coisa avançar já há pessoal a mais
Coitado do consultor
Que é p’ró que der e vier
Saltando qual catapulta da consulta que resulta
Ao seja o que Deus quiser
Coitado do consultor
Quando o pobre descobrir que de consulta em consulta
Se hoje é ele quem exulta
Amanhã
Se Deus quiser e o Diabo deixar
Senta-se ele na catapulta...
... e ninguém o volta a ver!
- Jorge Castro
outubro 18, 2004
Apelo
Traz-me
Oh homem viajante
Do redondo mundo
Hiante
Enorme
Azul
Sem cabeça
Algo melhor que a fome
E que apeteça
Talvez água
Talvez pão
Ou só um sonho
E mais não
Não preciso que me tragas
Nem gritos de armas
Nem sangue
Nem pavor de um ódio exangue
Vestido de ideal
Com capa de religião
Que nada disso dá pão
Traz a mão cheia de terra
E do saber que ela encerra
Mas se encontrares uma estrela
Tenta não te perder dela
E quando tu me encontrares
Abre tu essa janela
De par em par
E por ela
Deixa a sua luz entrar.
- Jorge Castro
outubro 17, 2004
Arrumando a casa
Ontem e hoje foram dias de arrumação, cá pelos Sete Mares. New look, ma non troppo... aproveitando disponibilidades e sapiências informáticas do Skimmer.
Muito se agradece a qualquer visitante que tropece nalgum móvel mal arrumado, o favor de comunicar, para respectiva arrumação.
Até já.
outubro 16, 2004
À tia Esmeralda, com parabéns...
... porque nela noventa anos é coisa que se faça...
Alcançar noventa anos não será
Por si só esse feito de tal monta
Pois o tempo passa em nós e nem se dá
Que ele nos leva em cada dia que desponta
Outra coisa bem distinta
Bem diversa
É cumprir essas noventa primaveras
De quem sabe com flores estar à conversa
E da noite perceber tantas quimeras
Como saber de cada dia
A utopia
E levar assim a vida bem levada
Como água de um rio sempre limpo
A pintar de novas cores cada alvorada
Construindo aqui na terra o Monte Olimpo.
- Jorge Castro
outubro 14, 2004
Da liberdade de expressão
Com a devida vénia, rapinei o texto abaixo do blog Os Estados Da Nação. Merece uma leitura interessada... e talvez sirva de alerta para algum incauto que esteja, sem se aperceber, a dar argumentos à entidade patronal para um "despedimento com justa causa". E não é flor de estilo nem novo mito urbano.
Cuidem-se, portanto, companheiros. Rebeldes, sim, mas reguilas!
Quinta-feira, Outubro 07, 2004
Também há censura na província (recebido por e-mail)
Exmo. Sr. ou Sr.ª:
Vem isto a propósito do caso Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.
Nasci e tenho vivido num pequeno concelho (Pombal) do Litoral-Centro (Distrito de Leiria). Não milito em nenhum grupo partidário. Sou um simples cidadão nascido seis anos antes do 25 de Abril de 1974.
E como cidadão, ingénuo a pensar que haveria liberdade de expressão e de opinião, criei em Julho passado um “blog” na Internet que pretendia ser um espaço de reflexão e de debate de ideias, com críticas construtivas, sobre o que está a acontecer na minha Terra.
Nomeadamente sobre a actividade da respectiva Câmara Municipal e outras instituições.
Esse “blog” num espaço de dois meses registou mais de 6.700 visitas, tendo sido comentado em grande número por outros cidadãos/munícipes.
A respectiva autarquia, presidida pelo social-democrata Eng. Narciso Mota, nunca usou o princípio do contraditório. Apesar de reconhecer que alguns dos temas abordados tinham a sua veracidade, alterou alguns procedimentos, dando razão ao que por lá se escrevia.Reconhecendo que o “blog” era incómodo para o Poder (leia-se, Câmara Municipal), o senhor presidente entendeu que a melhor forma de usar o “contraditório” era acabar com o mesmo.
Vai daí, entrou em contacto com a direcção/administração da empresa onde eu trabalhava e denunciou a sua existência, fazendo ver que o “blog” era “gerido” em horas de expediente.
A direcção da empresa de imediato, e justificando que aquela situação lesava a relação institucional com a Câmara Municipal, até porque necessitava desta para legalizar algumas situações pendentes, despediu-me. Isto, não argumentando com falta de profissionalismo ou de produtividade. Mas sim, porque o senhor presidente da Câmara assim os contactou para o efeito.
Esclareci a situação e comprometi-me a eliminar de imediato o “blog”, o que foi feito e aceite. Precisamente um mês depois, e pelo meio alguns encontros realizados entre o presidente da Câmara e a direcção/administração da empresa, fui novamente confrontado com o despedimento. E perante duas opções: instauração de processo disciplinar ou demissão voluntária, optei pela segunda.
Ou seja, a intervenção do senhor presidente da Câmara Municipal de Pombal neste processo é um facto. Tanto o é que um dos seus vereadores afirmou perante algumas pessoas “já acabámos com o blog”.
Esta situação é notoriamente idêntica à que aconteceu com o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Na sua proporção, obviamente. Mas, com um senão… o meu futuro. Estou desempregado, com duas crianças de 20 meses para criar, casa e carro para pagar. E esposa também desempregada.
E tanto mais que, ainda há dias, ouvi da boca de um eventual empregador: “reconheço que és a pessoa indicada para o meu projecto, mas quando o senhor presidente da Câmara soubesse, caía o Carmo e a Trindade. E eu não quero ter problemas com esse senhor”.
É triste que 30 anos depois de uma revolução, ainda haja quem de uma forma nojenta e vergonhosa, censure as vozes discordantes para que estas não expressem livremente as suas opiniões.
Com os melhores cumprimentos
Atentamente
Orlando Manuel S. Cardoso
Rua Paul Harris, nº 13 – 1º Esq3100-502 Pombal
Telef.: 236213594 – 936354363
outubro 12, 2004
Os Super-Heróis - poema para os mais novos (ou para a criança dentro de nós, como se diz...)
Ontem, dia 11 de Outubro de 2004, faleceu o actor Christopher Reeves, conhecido por ter encarnado a personagem da BD, o Super-Homem. Há vários anos lutava contra as consequências do grave acidente que o vitimou, quando montava a cavalo. E revelou-se, nessa luta pela vida, um Super-Homem que talvez ninguém adivinhasse.
Morreu-nos o Super-Homem
E não foi de kriptonite ou de algum vírus astral
Foi da queda de um cavalo
Num intervalo da luta contra o crime organizado
E outras forças do mal
Morreu e vai a enterrar
E fica o mundo mais frágil sem saber quem o proteja
Que já não há Super-Homem
O homem de aço a voar
Nos quadradinhos que lemos ao domingo num jornal
Hoje foi o Super-Homem
E amanhã quem será?
Talvez o Robin dos Bosques sem bosques para se ocultar
O nosso Zé do Telhado sem telhas para se abrigar
O Zorro desmascarado
Ou aquele Homem-Morcego já sem asas para voar
Voemos pois sem tardança
A construir mais heróis que o dia é uma criança
Mas a noite já lá vem e o medo não descansa...
Paremos por um momento
A retemperar o fôlego
Recobrando um novo alento...
Importará mais talvez ouvir com olhos de ver
E descobrir que a voz
Que os céus cruza sem temor
Afinal... somos só nós.
outubro 11, 2004
Dos discursos e da terra queimada
A nossa memória prega-nos destas partidas. Ainda hoje, ao ouvir um discurso dito "de estado", na RTP, ocorreu-me a recente devastação da Serra da Arrábida... Claro que não há nenhuma relação de causa e efeito, é só a memória a pregar-nos destas partidas...
Fotografia de Carlos Manuel Fonseca
outubro 10, 2004
Lamento Marinheiro (III)
De noz em noz passámos nós
‘Inda para além da Taprobana
E tudo por mor de nós
E dos egrégios avós
Se fez de tantos mundos esta alma lusitana
Por tal somos bastas vezes só de nós próprios portais...
Talvez um pouco chineses
Ou goeses ou nipónicos em pendores orientais
Da Mafoma os mais cépticos ou quase cristãos atónitos
E de Buda reticentes
Visigóticos
Arábicos
Sem desdenharmos sequer o dom de sermos
Portuguêsmente malteses
E de tanto nós penarmos a fundo por tais degredos
Patagónias e Amazónias temerosas sem dar luta
Estremecem e entreabrem o livro dos seus segredos
A uma turba famélica inóspita e hirsuta
Ansiosa e ferrabrás
Que se diz aos quatro ventos de si mesma portuguesa
Nessa fúria fecunda e anseio bandeirante
De dar ao mundo infantes e desvendar outros mundos
Nessa força que à força tu me dizes quereres que seja
“Indómita e sem par” mas temperada com igrejas
Em cada rude e fera e vil longa viagem
Espalhámos pelo mundo a mestiçagem
A golpes de montante e bacamarte
Se dirá enfim que é cada um
De matriz feito para o que nasce
Mas de tanto espalhar por toda a parte
Esse amor lusitano algo esquizóide
Tanto engenho e arte em desperdício
Qual sacrifício de vulgar espermatozóide
Me parece ter restado
No primordial torrão amortalhado
Muito pouco dessa alma lusitana
E de amores só diviso de perfeitos
Os plantados no jardim mais que imperfeito
Que se queda junto ao mar
Sempre adiado.
- Jorge Castro
outubro 08, 2004
Uma subjectiva achega acerca da liberdade de imprensa
Tenho seguido com enlevo a saga da TVI versus prof. Marcelo versus PSD. E, de tão enlevado com tanto comentário mais ou menos inteligente sobre a matéria, também a mim me apetece dar uma achega...
É, aliás, este o encanto dos blogs: apetece-me e lanço uma achega sobre qualquer coisa. O contraditório está implícito. Só me atura quem quiser e não estamos (até ver) perante uma actividade remunerada.
Bem, mas vamos lá à achega:
A liberdade da imprensa é um pouco como a plasticina: moldável sob pressão. Digo isto por conhecer, de muito perto, a realidade de uma grande empresa nacional de há algumas décadas a esta parte (acreditem, se fazem o obséquio!...). E conhecer essa realidade de forma interessada, crítica e participante, donde permitam-me invocar algum domínio de conhecimento.
Ora bem, não me lembro de ter alguma vez lido em qualquer órgão de grande comunicação uma notícia, uma só que fosse, que primasse pela objectividade, pelo rigor jornalístico, pela preocupação da informação versus desinformação, sempre que uma notícia sobre aquela grande empresa vem à ribalta e desce sobre o "grande público" pagante que, com generosidade, a sustenta.
Pressões grosseiras? Nada disso! Para quê? O tráfico de influências basta. Se calhar, o mero interessezinho reverencial, pois afinal somos todos primos, não é?... Não sei e nem me perguntem. Mas alguma coisa há-de ser...
Interessa, sim, apenas reafirmar o que já afirmei: em duas, três dezenas de anos, não me lembro de ter lido ou ouvido UMA só notícia objectiva e, daí, honesta, divulgadora, informativa, crítica, para amostra.
Em contrapartida, notícias por encomenda - daquelas de que já se conhece, internamente, o teor antes mesmo de serem editadas - são quase diárias.
E se assim é com uma empresa, imaginemos o que se passa com o espectro político...
Penso ser esta a preocupação que Sua Excelência, o senhor Presidente da Repúblida Jorge Sampaio exprimiu, ainda que de forma tão reticente, nas suas mais recentes declarações sobre o "caso" prof. Marcelo.
A liberdade de informação, neste Portugal que já se quis de Abril... só mesmo acompanhada pela canção do Jorge Palma: deixa-me rir...
outubro 07, 2004
Boicote activo à TVI
Sucesso total e estrondoso!
Após o post anterior, entre comentários e mensagens de email, já contabilizo
17 adesões à causa!!! 17! DEZASSETE, vejam bem!
Já imaginaram o impacto que isto pode vir a ter na carteira publicitária da TVI?
O futuro sorri-nos!
outubro 06, 2004
Governo PSD + TVI = Escandaleira censória
NÃO QUEREM PENSAR EM BOICOTAR A TVI?
Se dúvidas houvesse quanto aos "tiques" censórios de tantos "representantes governamentais" feitos à pressa e, de facto, sem qualquer resquício de cultura democrática, teríamos aí o sr. ministro dos assuntos parlamentares, Rui Gomes da Silva, para desenganar os mais crédulos.
Abespinharam-se os meninos porque o prof. Marcelo, da mesma cor ainda que de diferente feitio, não alinhou no cortejo dos louvaminheiros e desancou o governo de Santana... E o sr. ministro vem exigir o "contraditório"!!! De quem, ó alma pura? Do Bloco de Esquerda, talvez?
E porquê, se não perdermos de vista que se fala aqui de um comentador? Castigado por delito de opinião? Um debate e um comentário não são a mesma coisa, como é evidente.
Santa estupidez! Esta gentinha estúpida e insegura até da sua inteligência tem medo!
Rui Gomes da Silva quereria o quê? Debates "democráticos" com as diversas nuances do PSD e talvez um ou outro PP, a acenar com a cabeça? Esgota-se-lhe ali o conceito de sociedade democrática?
Mas governo governa e vai de fazer pressões sobre Paes do Amaral, patrão da TVI, para aconselhar o professor a "amenizar" os comentários. E o Paes alinhou logo, claro, que isto de pressões de governo são sempre insustentáveis para quem está mais interessado em cair em graça do que em ser engraçado. Dizem-no privado mas, se calhar...
O prof. Marcelo que - goste-se ou não da personagem - parece manter uma coluna vertebral razoavelmente direita, honra lhe seja, manda dizer aos meninos que para este peditório já deu e bate com a porta, não se submetendo àquilo que é uma manifestação despudorada de CENSURA. Isso mesmo! E não há que estar com paninhos quentes: o episódio configura uma clara e institucional manifestação de censura!
Para mim a coisa é clara: a partir de hoje e enquanto se mantiver este "status", não voltarei a ver TVI. Inicio, pois, aqui um boicote activo àquela estação de tv.
Hoje, ainda, terá lugar um plenário cá em casa sobre o assunto e, amanhã, estenderei a atitude ao meu local de trabalho.
É pouco? É o que está ao alcance imediato do cidadão. E nem custa dinheiro... Haja cidadãos!
outubro 04, 2004
Última Hora - Em directo de Silly-con Farm
Ao olhar para aquele painel...
A alguém que se dê com a Júlia Pinheiro:
Por caridade, esse alguém que a avise que o Bibi, o próprio, ele também é uma celebridade. A própria mãe da Joana caminha a passos largos para o estrelato...
Será que, de facto, o dinheiro justifica tudo?
A TVI faculta-nos, assim, a rara oportunidade cultural de conhecer, por dentro, uma casa de alterne.
POST post POST: Claro que falando da coisa, se publicita a dita... e o vómito vive muito da transmissão porta-a-porta...
Mas prefiro cultivar o direito à indignação, tentando com isso inventar um antídoto a favor de alguma sanidade mental (principalmente da minha).
Tenho para mim que, embora todos tenhamos provavelmente um preço, isso não é sinónimo de que todos estejamos dispostos a tudo, desde que nos paguem bem.
Creio que a Júlia Pinheiro tem um curso de Germânicas. E prontifica-se a dar a cara por aquilo, porquê? No Parque Eduardo VII teria menos exposição e, com uma boa gestão, talvez idênticos proventos.
Ou, dito de outra maneira, não estou certo de que um Fialho Gouveia estivesse na disposição de apresentar uma trampa daquelas.
Que as boas acções fiquem com quem as pratica... e que a nossa memória não nos atraiçoe.
outubro 02, 2004
Do mar e do conhecimento
Fui à falésia a mais alta à minha volta
Tardio o dia por esse fim do meu dia
Só p’ra sentir do mar o azul e a revolta
E o céu de cobre já o azul enverdecia
Senti o vento que me trazia na espuma
Da onda brava a rebentar a maresia
E o fraguedo torturado que gemia
Assim exposto à branca vaga uma a uma
Quis ser o mar eu lá do alto e tão pequeno
Quis ter de mim leve vislumbre da utopia
Eu que não passo daquele grão de leve areia
Que o mar revolto da falésia desprendia
Quis de mim ter a envolvência tão diversa
Em que eu pudesse ser do mar singela ideia
E descobrir que o mar enfim era universo
E que eu de mar voltava a ser só grão da areia.
- Jorge Castro
outubro 01, 2004
Do ensino, da ginástica e do circo...
Acredite quem quiser: à minha-senhora-de-mim, a tal que é professora, ocorreu uma palhaçada memorável e que deverá ficar nos anais (e noutras partes pudendas) da História nacional contemporânea.
A saber: tirou a si mesma o lugar na Escola onde fora colocada! Relata-se o extraordinário caso em duas linhas: concorreu ao concurso "normal" para colocação de professores e, por imperativo legal, em simultâneo concorreu ao destacamento por condições especiais (no caso, familiar a cargo).
Foi colocada numa Escola a cinco minutos de casa, andando a pé, no tal concurso "normal", dito de efectivos...
Mas o outro concurso seguiu a sua marcha inexorável para o abismo. E não é que veio a ser destacada para uma outra Escola, por força desse segundo concurso? Só que esta fica a uma dezena de quilómetros de casa...
Atão, mas por que raios o 2º concurso não deu o mesmo resultado do 1º, já que a opção de Escola era a mesma?
Questionado o Ministério, a resposta é divinal: no 2º concurso não ficou na mesma Escola onde fora colocada no 1º concurso... porque a única vaga existente já estava preenchida - por ela mesma, esclareço eu! E, agora, há que alombar com a 2ª opção que, recorde-se, se destina a minorar sacrifícios para quem tenha a cruz de apoiar um familiar dependente...
Confusos?... Não vale a pena. Assim cum'àssim, para quem anda há já trinta anos a calcorrear o país, o que é que são dez quilometrozitos, perante o chorrilho de disparates que se vêem pelo mundo?
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