janeiro 30, 2005
(Alguns pecados) Luxúria
Foras vela e eu neblina
Matinal de Sol nascente
Beijaria cada onda
Por te saber gosto a mar
Viveria à tua volta
Vela branca que se afoita
E que ruma assim envolta
Só prazer de navegar
Vela solta
Eu encheria
Teu ventre de maresia
Na tensão de cada olhal
Vela presa ao mastro alto
Eu te estreito neste abraço
Mais intenso
Mais carnal
Parte intrépida ao assalto
De mim leve neblina
Que eu me faço
Por te amar.
- Jorge Castro
janeiro 28, 2005
Sondagens...
No sentido de clarificar os insondáveis mistérios das sondagens e como exercício de cidadania exequível e económico, decidimos efectuar uma sondagem cá por casa...
A conclusão não podia ter sido mais conclusiva. Como nos deslocaremos todos à mesma mesa das urnas na mesma viatura e ao mesmo tempo, ficou desde logo claro que iríamos votar em bloco.
Esta sondagem foi ratificada pelo senhor João, dono do café do bairro, e abrangeu toda a população residente nesta casa.
Qualquer extrapolação feita por estranhos será da exclusiva responsabilidade dos mesmos.
janeiro 27, 2005
A palavra é uma arma...
(Alguns pecados) Preguiça
Preciso de ti
E no entanto
Canto tal cigarra ao vento
Preciso de ti
Neste canto
Manto de uma solidão
Que sinto
E me conforta
O quebranto
Num torpor que é de absinto
Preciso de ti
Enquanto
Vou ficando neste encanto
De nada fazer
Por tanto te querer
Que eu mal pressinto.
- Jorge Castro
janeiro 26, 2005
Reflexão histórica...
Um grupo de académicos concluiu, de forma irrefutável, que Cristóvão Colombo
era Santanista: partiu sem saber para onde ia, chegou sem saber onde estava,
regressou sem saber de onde vinha. Tudo isto à custa do dinheiro dos outros.
janeiro 25, 2005
(Alguns pecados) Egoísmo
Olhei para ti certa vez
E vi em ti a estrada
Olhei de novo e senti
Seres também tu a janela
Passei através de ti
Assomei ao teu sorriso
E para além de ti fui
Por ser bom por ti passar
E foi assim que passando
Me perdi do teu olhar.
- Jorge Castro
janeiro 23, 2005
(Alguns pecados) Avareza
Se me dás de ti tão pouco
Quanto pouco eu retiro
Pouco a pouco sabe a pouco
Mas é assim que respiro
Louco não sou mas avaro
De tudo o mais que eu queria
E se no pouco reparo
Não me sobra demasia
Dá-me de ti então pouco
Que esse pouco ainda assim
Parecendo talvez tão pouco
Faz-se muito para mim.
- Jorge Castro
janeiro 21, 2005
(Alguns pecados) Vaidade
Passam alguns nesta vida
Com o peso da montanha
Outros a vida lhes passa
Sendo o seu peso fumaça
Sem peso
Cor
Ou tamanho
Quem me dera conseguir
Fazer da vida colina
Ou na vida perseguir
Vale de sonho verdejante
Colhendo em cada ravina
Aconchego de gigante
Não sendo eu monte nem mar
Nem colina mais viçosa
De brumosa neblina
Onde a pétala da rosa
Se queda a tremer de frio
Levando em mim as montanhas
Ensinadas pelo vento
Até ao mar turbulento
Deixem que seja então rio
E num enlevo tardio
Vos leve comigo ao mar.
janeiro 19, 2005
Quotidiano delirante
Ainda para nem tudo serem tristezas, vou contar-vos uma historinha recentemente passada comigo, que é uma graça e uma frescura:
- Jantar de relações recentes construídas à volta da poesia. Na mesa, treze pessoas.
Às tantas, uma senhora, já com algum peso de idade, dá por tal circunstância e aflige-se. Diz-me que é necessário absolutamente descobrir um outro comensal, não vá o mau agouro tecê-las. Eu, fazendo pouco caso, respondo-lhe que não valerá a pena, pois uma outra amiga, sentada a meu lado, galhofeira e jovial, irradiando alegria em volta, tem, como é evidente para todos, "uma criança dentro de si"...
A senhora de idade sorri, cúmplice e tranquiliza-se.
No fim do jantar, depois da sobremesa mas antes da poesia, a senhora levanta-se, com pompa, circunstância e um ar estampado na face da maior alegria, ergue o seu copo e propõe um brinde à futura mamã e as maiores felicidades ao rebento que ela traria dentro de si...
Não sendo bastante o desconchavo e, porventura por insuficiente conhecimento, ainda me atribui publicamente a paternidade e na presença abismada da minha companheira à séria...
Moral da historinha: Ele há que ter muito cuidado com as frases feitas, principalmente atendendo aos contextos!...
janeiro 18, 2005
GRANDES MISTÉRIOS E ALGUMA DESINFORMAÇÃO NO (ANTIGO) IMAGINÁRIO INFANTIL:
Porque o ambiente nacional é surreal e sem querer influenciar intenções de voto, hoje vou deixar aqui um pequeno divertimento filosófico que, não sendo recente, interessará para estimular as meninges um pouco mais do que os nossos políticos o vêm fazendo:
- Se o Popeye e a Olivia nunca fizeram amor, de onde é que saiu aquele bébé e porque é que é tão parecido com os dois?
- Porque é que a policia não investiga o gajo que vende os espinafres ao Popeye?... Com aquele efeito serão mesmo espinafres?
- Como é que o avô da Heidi consegue manter uma família e uma vivenda nas montanhas só com a reforma?
- O Pedro teve milhares de oportunidades para papar a Heidi quando ia pastar as cabras ao campo, mas nunca lhe tocou com um único dedinho. Será que tinha alguma coisa com as cabras?
- Que tipo de droga tomarão os anões da Branca de Neve para depois de 20 horas a bulir saírem a cantar da mina? Por que é que o Ministério do Trabalho não investiga este horário?
- Porque é que a Capuchinho Vermelho teve de pedir tantas pistas até se aperceber que a avó era um lobo? Estava drogada?... ou era mesmo parva?
- No que é que se parece uma avózinha a um lobo para que este passe despercebido em camisa de dormir?
- A Capuchinho Vermelho terá alguma coisa a ver com o partido comunista?
- A Pantera Cor de Rosa era ele ou ela? Ou terá sido a primeira expressão da cultura gay?
- O que é que deram de fumar à Bela Adormecida para ficar a dormir todos aqueles anos? Por muito príncipe que um gajo seja, como é que é possível beijar uma morta?
- Como é que o pato Donald tem sobrinhos, se não tem irmãos? E porque é que todas as personagens Disney usam luvas?
- Se havia um estrunfe bébé, quem é que f... com a estrunfina? Ou será que nem eles sabiam quem era o pai?
- Por que é que o Incrível Hulk, quando se começa a transformar, rebenta toda a roupa menos as cuecas? Serão estupidamente elásticas?
janeiro 17, 2005
Burgessos motorizados
No domingo - ontem, portanto - fui fazer uma caminhada com um grupo de amigos, na região de Colares, mais propriamente entre uma aldeia chamada Casal de Pianos e uma outra de seu nome Sacário.
A paisagem em torno da ribeira da Samarra é excelente, o tempo esteve de feição, o convívio foi do melhor.

António Miranda, o organizador, brindou-nos até com um folheto esclarecedor sobre o percurso e o seu enquadramento histórico.

Em dado momento do trajecto, e logo após a passagem por uma ponte romana em muito razoável estado de conservação, deparámos com um trecho formado por umas largas dezenas de metros de uma via romana, que contém elementos arquitectónicos muito curiosos na sua concepção.
Pois é!... Mas toda aquela extensão está a ser destruída pela passagem constante - que testemunhámos - de endinheirados "aventureiros de fim de semana", em moto-quatro e moto-cross, que escolhem exactamente aquele trajecto para as suas acrobacias domingueiras!!!
Porque fatalidade terrível será que, nesta terra, o dinheiro está tão associado à mais supina cretinice, imbecilidade e incultura?
É que se me disserem que um tal "Zé das Hortas" colocou um menir, encontrado em parte incerta, à entrada da porta de casa... que diabo!... Talvez até se entenda a pilhéria. Agora que aquela gajada, com posses para adquirir brinquedos caros, não tenha em si um grama de discernimento que lhes permita ver a barbaridade irremediável que estão a perpetrar, é que não me entra cá no bestunto! É que é demasiado estúpido para ser verdade!
Claro que se fala aqui de uma suposta área "protegida" Sintra-Cascais...
Este país é uma risota de ir às lágrimas!
janeiro 15, 2005
DesenCanto

Falas-me de mar
Como se ainda houvesse barcos nos teus olhos
E de gotas de orvalho no restolho da campina
Como se fosses fria noite redimida pela aurora
E assim eu sei de ti a onda e a lágrima
Quando não te sinto calor de primaveras
Nem manto de sorriso no vicejar de cada flor
Falas-me do mar e do orvalho
Em ondas só de angústia
E pérolas de paixão que são já cinzas
E eu fico assim
Perdendo-me para além do teu olhar
Empedernido pelo tempo da cidade
Ansiando que a linha de fogo que diviso no horizonte
Seja a cor do Sol poente ao rés das águas
Para não ser só frio sangue o que me trazes.
- poema e imagem de Jorge Castro
janeiro 12, 2005
Barro
É na terra que começa
Nessa amálgama de pó que se afeiçoa e é de barro
Arrancado pela enxada
Extensão de braço armado na dura luta pelo pão
Moldado pela nossa mão na roda tensa do oleiro
Os dedos dão forma à peça
Cada camada sentida
Cada vinco ou impressão
Em que a mão dá a forma à vida que é de enformar a mão
E a peça vai crescendo
Passo a passo
Em rotação
Pó da terra
Terra-mãe
A mão do homem-irmão
Rodando a roda do oleiro
Até ao fim do destino
Até nova rotação
Roda a roda do oleiro
É o bruto barro já peça
Pó da terra
Homem
Vida
Será cântaro
Promessa
Artes de levar comida a uma boca sem pão
... Era a história da terra
Antes de servir apenas para mais não ser do que chão.
Jorge Castro
janeiro 08, 2005
Índico
Se eu fosse a nuvem cruzando
O céu azul e brilhante
Buscaria os horizontes
Que de mim sei mais distantes
Seria água das fontes
Cristais dos mais transparentes
Que cegam quase de luz
No frio gelo do monte
Seria o regato fresco
De conforto ao viajante
Seria o rio corrente
Que dá ao mar alimento
E quando o Sol mais ardente
Rasgasse através de mim
Um risco de luz nas águas
Em verde-mágoa sulcado
Seria então eu por fim
Barco no olhar da criança
Que nas andanças do tempo
Tempera o mar de esperança.
- Jorge Castro
janeiro 07, 2005
Vemos, ouvimos e lemos... e até custa acreditar!
Revista Prémio, de 24 de Dezembro de 2004, página 75, título do artigo da autoria de Nuno Abrantes Ferreira: “Procura-se Flexibilidade”.
- Fala-se aí de recursos humanos e da sua importância na competitividade das empresas portuguesas, noticiando um debate organizado, em 18 de Dezembro, pela Portuguese American Post Graduate Society (PAPS).
Tema em análise: mobilidade de trabalhadores e flexibilidade de leis laborais.
Dos oradores, vou destacar um, Rui Horta e Costa, administrador executivo da EDP que, a dado momento e conforme citação do autor do artigo, terá proferido as seguintes tremendíssimas e piramidais barbaridades:
“ – Os trabalhadores da EDP têm, em média, 22 anos de experiência dentro da empresa. Isto não é saudável, porque há 22 anos que estão sentados na mesma cadeira, a fazer a mesma coisa e a trabalhar com as mesmas pessoas”... Mais à frente, remata, em estocada digna de um cordobés polichinelo: “Os trabalhadores têm de ter alguma coisa a perder. Saber punir é muito mais difícil que saber premiar. E os portugueses têm que se habituar a ser despedidos quando os objectivos não são cumpridos”.
Como se dá o caso de este vosso humilde cetáceo ter algum conhecimento da realidade que aquele bacano refere, vou permitir-me comentar estas brilhantíssimas asserções, tentando não ser fastidioso:
1. As mais recentes administrações da EDP dividiram, nos últimos 12 anos, a EDP em para cima de uma centena de empresas. Questão óbvia que se coloca: como é que os trabalhadores conseguiram ficar todos “no mesmo sítio”, com tanta mudança?
2. Há 12 anos, com uma só empresa, havia cerca de 26.000 trabalhadores. Hoje, com aquela proliferação de empresas, restam apenas cerca de 8.000. A este estrondoso decréscimo correspondeu um não menos estrondoso e exponencial acréscimo de administradores. Então sempre houve alguma “movimentação”... As vantagens competitivas é que se diluíram na voragem dos chorudos vencimentos e prebendas de tanto gestor.
3. Diz o ilustre administrador que trabalhadores 22 anos sentados na mesma cadeira, a fazer a mesma coisa não é saudável... Como não deve estar a referir-se a problemas de hemorroidal, ainda assim, deverá admitir-se terem sido eles a criar e sustentar as mais-valias de que os actuais administradores usam e abusam a bel-prazer, bem mais preocupados em “engenharias financeiras” do que na busca e prossecução de objectivos que reforcem a produção das energias do futuro.
4. Não curou de explicar o sapientíssimo orador como é que ele, emérito gestor, permitiu - presuntivamente e a acreditar no dislate - que os trabalhadores da “sua” empresa tenham estado 22 anos a fazer a mesma coisa, trabalhando com as mesmas pessoas, ainda para mais, sentados na mesma cadeira! Cá para mim, parece-me que a culpa do imobilismo cai, direitinha, na cabeça do senhor gestor, que se revelou incapaz de gerir eficazmente e com outra criatividade o capital humano de que dispunha.
5. Deve então admitir-se que a receita preconizada pelo emeritíssimo gestor, a saber: habituar-se à ideia de ser despedido quando os objectivos não são cumpridos, cai por inteiro e com estrondo, sobre o toutiço do próprio. Espera-se, pois, alguma coerência...
Tudo isto é, pois, uma rematada aldrabice e um pavoneamento insultuoso para quem lhe anda a garantir o sustento. Conheço, de perto, vários casos de trabalhadores daquela empresa que, após uma vida de trabalho a percorrerem inúmeras e diversificadas áreas departamentais – e a mais não acederam por entraves dos gestores deste calibre – que, apesar de avaliações de desempenho muito acima da média, nesses tais vinte e tal anos nunca saíram, profissionalmente falando, da cepa-torta, nalguns casos ouvindo até o argumento canalha da “instabilidade emocional”. Tal foi a recompensa por corresponderem à decantada mobilidade.
Muito mais haveria a dizer, que isto é um mar de disparates. Fiquemo-nos, tão só, com o lamento de que, com tal apetência para a punição e para a vergasta, se estará perdendo em Horta e Costa uma vocação para as galés. Por caridade, diga alguém àquela alma que já não há galés e, assim sendo, ainda acabará os seus dias a chibatear-se a si próprio!
Como último elemento de reflexão e a propósito de competitividade, uma questão que me aflige: Como é que a EDP pode vender hoje, em Espanha, a electricidade a um preço substancialmente mais baixo que em Portugal? Será à custa de não substituir as cadeiras dos seus trabalhadores?
janeiro 05, 2005
Ainda não é hoje que me dá para a poesia...
Perguntas inconsistentes à volta do “bloco central”:
1. O Santana Lopes não considera “agradável” a constituição das listas de candidatos a deputados. Então, se escolher os “melhores” entre os “melhores” da própria equipa não é tarefa digna nem estimulante, sequer para a primeira figura do partido, como é que há-de sê-lo para o bom povo português?
2. Uma analista “próxima” do PS invocava, no “Prós e Contras”, como factor negativo na saga da administração pública a falta de capacidade legal para movimentar os funcionários. Então porque não se colhe o exemplo dos professores? Há lá classe profissional mais movimentada que aquela? E não são funcionários públicos? Depois, vê-se a maravilha em que está o ensino e o concurso exemplar deste ano e logo se percebe que movimentar é que faz falta!...
3. Cavaco Silva não autoriza a utilização da sua imagem na campanha do PSD, invocando prejuízos na sua imagem de docente. O senhor professor estará com receio que a rapaziada lhe pinte barbas e bigodes nos cartazes da cidade e, assim, o desautorize na cátedra?
4. O PS de Setúbal não quer o Paulo Pedroso na sua lista; o PS quere-o mas não em lugar elegível; o próprio também não quer ser eleito. Então, se estão todos de acordo, porque é que o problema foi criado, que eu não estou a ver daqui?
5. Pôncio, no Porto, não gosta de Rio. Rio não gosta de Pôncio nem do FêCêPê. Mas Pôncio gosta do FêCêPê. Pôncio diz que não fará campanha ao lado de Rio, na lista do PSD, e o PSD retira o Pôncio da lista. Mas o Rio é presidente da Câmara e as eleições são para a Assembleia, ou não?... Para que é que eles terão de andar agarradinhos um ao outro? Sendo dois homens, vais ver é por isso que o Santana acha que estas escolhas de candidatos são uma tarefa pouco agradável...
Cada vez percebo menos esta gente!...
janeiro 03, 2005
2005 não me está a começar lá muito bem...
Carta aberta e ingénua à Excelentíssima Senhora Dona Júlia Pinheiro,
Pronto! Parece que lá acabou a cegada da tua quintinha... Arrecadados que foram os tostanitos com que irás comprar os melões do teu contentamento, deixa-me perguntar-te uma coisa:
- Perpassa-te pelo bestunto a noção de que os portugueses, em geral, ou a Dona Efigénia, de Fornos de Algodres, em particular, ficaram cultural ou humanamente mais enriquecidos com o regabofe de que ousaste ser o emblema mediático?
Entretenimento cru? Ó mulher, filmasses uma matança do porco ou o esquartejar de uma vitela no matadouro. Vocês não dizem que o povo quer ver é sangue?
Dir-me-ás, claro, que se não fosses tu outra seria. Clarividente asserção. Mas se não fosse o Hitler? Outro seria? Ou, até, o nosso António das botas? Outro seria?... Ocorre-me, até, uma elementar antítese: e se não fosse aquela Catarina Eufémia? Outra seria?
Estas filosofices sobre o acaso e a necessidade levar-nos-iam muito longe. Porventura, em ti terá preponderância a necessidade, dando-se de barato o acaso e, por conceitos bastardamente democráticos, a cada um a sua escolha.
Até a tua camarada, Catarina também, mas outra, a Furtado resolveu mimosear-nos a existência com a exibição de uns putos, betos e desatinados, fazendo momices semi-amestradas num circo piroso e, quiçá, configurando a sacrossanta figura da exploração de mão-de-obra infantil sem que se vislumbre o que é que tal patetice trará de bom ao mundo, para além do puro desperdício de tempo de antena, bajulice aos progenitores babados e aplauso de mentecaptos. Ah, ele há um programa igual, americano e de muito êxito? Pois, eu logo vi...
Abismo-me eu, pobre pagador de impostos sem projecção mediática – logo, sem existência real... – com estas nossas divas e a sua militância em provar que o mundo é quadrado, por pura ingenuidade minha, é evidente. Mas, continuando ingénuo, que bonito seria se vocês assumissem que o que vos faz correr é o dinheirinho, para que ninguém se iludisse com as vossas patéticas piruetas.
Era assim, chegavas ali e declaravas, à abertura de cada programinha: “- Bom povo português! Vou apresentar-vos um programa imbecil e imbecilizante, perverso e pervertido, aparentemente inútil e, portanto, de desígnios obscuros mas é só porque vou arrecadar UMA PIPA DE MASSA, pessoal!!!! E O CACAU É BOM CU’MÒ MILHO e eu gosto!!!!...”
E o bom povo português, como sempre, sorriria condescendente, abanaria a cabeça e o mais certo seria que uns ficassem para ver e outros não, como, aliás, é hábito.
Mas não achas que tu terias atingido um mais alto estadio na arte da comunicação? Porque é sempre bom saber o que faz correr o soldado, quando parte para a batalha. Dá-lhe elevação e, às vezes, quase nos convence que a causa justifica o meio. É como a prostituta... ainda que, nos tempos que correm, estes conceitos andem um pouco baralhados, com tantos dinheiros à mistura. Também aqui prevalecem conceitos de necessidade, dir-se-ia.
Porém, a minha ética tortuosa não pode deixar de fazer uma montagem terrível entre aquilo para que tu te vendes e a tragédia imensa que assolou e assola os povos atingidos pelo maremoto. Se calhar foi azar esta coincidência temporal. Se eu fosse a ti, pegava numa parte significativa desse dinheirinho que tanto te deve ter custado a ganhar quanto a nós a suportar, dava uma conferência de imprensa e anunciava a dádiva ao mundo e – quem sabe? – seria tua a próxima Ordem do Infante.
Talvez a tua acção servisse assim para alguma coisa para além do estrito acto de venda de carne humana que me fica. É que nunca mais poderei olhar para ti sem te ver criticando um burro por estar a comer excrementos de um peru. Se calhar, até era uma metáfora e aquele burro somos nós todos...
janeiro 01, 2005
1º Aniversário
Imagem de Charles Potts
Nada mais que o primeiro dia do resto das nossas vidas
Com um abraço enorme a todos quantos me honram ao visitarem esta casa
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