abril 29, 2005
José Afonso - Convite
Hoje mesmo, lá pelas 21h30, quem puder que dê um salto até ao Teatro da Rainha, nas Caldas da dita, para assistir a uma sessão de poesia evocativa do
José Afonso.
Para além da participação de elementos da Associação 25 de Abril
e de poetas das Caldas,
parte substancial do grupo que se encontra regularmente em redor da poesia,
na Livraria Ler Devagar, pelo Bairro Alto, em Lisboa,
também por lá andará.
Aparece, amigo. A entrada é livre...
E - nem é preciso dizer - traz outro amigo, também.
abril 28, 2005
de Miguel Torga - "Fábula da Fábula"

Era uma vez
Uma fábula famosa,
Alimentícia
E moralizadora,
Que, em verso e prosa,
Toda a gente
Inteligente,
Prudente
E sabedora
Repetia
Aos filhos,
Aos netos
E aos bisnetos.
À base de insectos,
De que não vale a pena fixar o nome,
A fábula garantia
Que quem cantava
Morria
De fome.
E, realmente...
Simplesmente,
Enquanto a fábula contava,
Um demónio secreto segredava
Ao ouvido secreto
De cada criatura
Que quem não cantava
Morria de fartura.
fotos de Jorge Castro, no Parque dos Poetas - Oeiras
abril 25, 2005
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- Cartaz de Vieira da Silva - "A Poesia Está Na Rua"
É Abril, meus Amigos!
Tempo de se dar as mãos. De se redescobrir a vida. De se abraçar este chão.
Tempo de ser solidário.
De abraçar também a vida, peito aberto ao nosso irmão.
abril 21, 2005
O Tomás já nasceu! Viva a Vida!

O Tomás nasceu! Andou uns tempos por dentro dos seus pais, a Rita e o Rui, mas agora já é gente com voz própria de se fazer ouvir.
Na mensagem que me enviou, o pai Rui disse-me algo de muito belo, que quero partilhar convosco, à felicidade do Tomás:
O Tomás é pequenino.
Mas é um grande lutador.
Nasceu hoje.
21 do 4.º mês
Trinta e três minutos depois da meia-noite.
E tem a Terra para herdar.
Um peso grande para quem tem apenas 2,675 kg.
Há quem diga que é "Touro".
Eu digo que é meu.
E a Rita também.
No fundo, no fundo, sei que não é meu.
No fundo, no fundo, é de quem gostar dele.
E eu gosto de vos contar que ele nasceu.
E no colostro da Rita
E no toque da mão
E na festa sentida
E no beijo tentado
É leve a frágil brutalidade
E brutal a força da fragilidade
O Tomás nasceu
E eu também
Amanhã os búzios vão trazer-me um outro mar
Que nunca tinha escutado até aí.
Ouvirei, então, que
Menino...
Sou eu
Para os três, os votos das maiores venturas, do OrCa e família.
de Vitorino Nemésio, "Cão Atómico"

1.
Este cão tem folhas nas orelhas,
Com quatro talos:
Mas o que este cão devia ter era calos,
E só tem olhos e ossos
E morrinha num dente!
Mas, meu Deus, este cão
Quase o diria meu irmão:
Parece gente!
2.
Este cão é redondo. Está deitado,
Rosna com gengivas de uivo.
Dizem-me que foi lobo,
Mas perdeu a alcateia
Como os homens perderam a Razão,
Que hoje serve de osso ao cão
Escapou ao cogumelo nuclear,
E por essa razão se foi deitar.

fotos de Jorge Castro, no Parque dos Poetas - Oeiras
de José Gomes Ferreira, "Comício"

Oh! esta comoção
de me sentir sozinho
no meio da multidão
- a ouvir o meu coração
no peito do vizinho.
Oh! esta solidão
quente como a camaradagem do vinho!

fotos de Jorge Castro, no Parque dos Poetas - Oeiras
abril 19, 2005
Sugestão: Maratona de Poesia, em Sintra
Dias 22 e 23 de Abril, na Biblioteca de Sintra (perto da estação do comboio). Entrada livre.
O grupo da Poesia Vadia da Ler Devagar terá por lá um painel,
no dia 23 (sábado), a partir das 21 horas.
Haverá, decerto, poemas para todos os gostos e sem anestesia.
Não querem aparecer?
abril 18, 2005
Até sempre, Jorge Diogo.

Outro Amigo que partiu, quase sem avisar, deixando dele a memória e a vontade de publicar um livro que terá escrito milhares de vezes...
Nesse livro - estou certo - haveria verdes campos, gritados por rubras e acetinadas papoilas.

Ao despedir-me dele, no cipreste junto ao qual se lançam as flores do adeus, com angústia, remorso e muita pena por nós próprios, à altura do ombro, descobri, inusitado, um ninho de verdelhão.

Insólito lugar para se construir ninho, tão ao alcance do homem e tão perto do local onde a morte dorme... E, ainda assim, a mãe verdelhão achou ser aquele o local certo para a Vida que, indómita ou invencível, não abandonou nem quando a minha curiosidade o devassou.

Ali pelos Olivais, aquela mãe recordou-nos o ciclo da Vida. E lágrimas houve que se transformaram em sorrisos.
Fotos de Jorge Castro
abril 16, 2005
Cântico em Branco ou o Monólogo do Santeiro
- litania inspirada por personalidade política acima de qualquer suspeita...
então
é assim
pronto...
e por fim
de mim
já não sei por onde vou
e pior
onde é que eu estou
mas vou andar por aí
isso é que vou
isso é que eu sei
isso é que eu sou
nem sei se estou
ou se não
se sou
se sim ou se não
se talvez
ou talvez não
se sou isso
ou nem por isso
não sei se era uma vez
não sei se sou quem tu vês
senão um outro
talvez
nem sei se és
o que eu sou
o que eu fui
o que serei
não sei por onde andarei
sei apenas que não sei
vou
sem saber porque vou
por me dizerem de lá
que lá estou
e não cá
onde me parece estar
mas vejo que já não estou
sei tanto que já nem sei
por onde ir
ou se irei
se ficar
ou se partir
se me quedar
ou fugir
talvez partir
talvez não
e
pronto
é assim
então
fico p’r’àqui
junto ao chão
a querer voar
ou então não
porque fui um dia rei
e no outro sou plebeu
amanhã sábio serei
ou serei talvez sandeu
e sem saber aonde ir
apenas sei que irei
passar a vida a andar
a cirandar por aí
e pelo sim
pelo não
um dia logo verei
aonde este ir me levou
ou se de tanto rodar
sem deste lugar sair
não acabei por ficar
sem saber onde é que estou.
- Jorge Castro
abril 12, 2005
CONVITE - Poesia Vadia
No próximo dia 15 (sexta-feira), pelas 18h30,
na Sociedade Portuguesa de Autores
(Rua Duque de Loulé, em Lisboa),
terá lugar uma sessão de
Poesia Vadia.
Este vosso amigo lá estará, a par com uma mão cheia de companheiros que,
há cerca de quatro anos, mantêm acesa uma chama poética
na Livraria Ler Devagar, no Bairro Alto,
quinzenalmente, às quartas-feiras.
Dir-se-á poesia e nada mais.
Trata-se de um caso de teimosia por amor, sem “camisolas”, sem regras e sem outro valor envolvido que não seja o da partilha.
Desta actividade pequena, mas constante e determinada,
vão-se ouvindo ecos no burgo...
Parece chegada a hora de exportarmos o modelo.
Conto convosco para testemunharem o evento e, até, participarem, se algum
bichinho álacre e sedento de focinho ponteagudo
vos estimular com mais intensidade.
abril 11, 2005
Ex-Libris da Tugosfera
O Amigo Finúrias do
Blog do Cagalhoum achou por bem implicar-me nesta corrente de divulgação de opções literárias pelo mundo lusitano dos blogs. Porque não se deve defraudar quem assim nos estima, cá estou a corresponder:
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Talvez “Um Estranho Numa Terra Estranha”, de Robert A. Einlein. Com tanta coisa esquisita à minha volta, estou inclinado a sentir-me extraterrestre...
Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção?
Não. Já simpatizei com muitos e descobri cumplicidades noutros tantos. Mas apanhadinho, nem por isso.
Qual foi o último livro que compraste?
Foram três, de uma assentada: “Memórias Das Minhas Putas Tristes”, de Gabriel Garcia Marquez (Ed. Dom Quixote); “De Palavra Em Punho – Antologia Poética da Resistência”, organização e apresentação de José Fanha (Ed. Campo das Letras); “B.I. da Criação do Mundo”, de Natália Constâncio (Ed. Apenas Livros).
Qual o último livro que leste?
"Guia Para Os Perplexos", de Gilad Atzmon. “Uma história obscuramente cómica sobre a Israel contemporânea e o colapso do ideal democrático ocidental”, como se pode ler na apresentação do mesmo.
Que livros estás a ler?
"Memórias Das Minhas Putas Tristes", já referido; “No Interior Da Tua Ausência”, de Baptista-Bastos... e para aí uns cinquenta e tal livros de poesia portuguesa, que seria fastidioso enumerar.
Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
1- O Dicionário Houaiss, porque teria tempo para o ler e poderia ser útil, na circunstância
2- “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, para praticar rimas, ritmos e conceitos
3- A obra completa de Eça de Queirós, para não me esquecer da riqueza complexa e bela do português
4- “O Livro Em Branco”, para poder escrever nele
5- A lista das Páginas Amarelas, utilíssimas para fazer fogo e outras miudezas quotidianas.
A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
e os vencedores são:
Todos e nenhum, que a vida vence-se todos os dias e por todos nós, assim a gente queira.
Obrigado, Finúrias! Já passei a bola...
abril 10, 2005
Determinismos

- fotografia de Jorge Castro
Nasço sem saber de horas
E no entanto construo-me no saber do tempo
Choro quase sem ter lágrimas
E no entanto há um mar que habita no meu corpo
Luto quase sem ter forças
E no entanto o mundo todo revigora este meu braço
Amo quase sem saber de amar
E no entanto amo pois de amar me faço
Nasço
Choro
Luto
Amo
Sou feito de assim crescer
Mas ao chegar a derradeira hora
Só morrerei mesmo se tiver de ser.
- Jorge Castro
abril 06, 2005
Inquantidade
E destes tantos
Quantos
Se fizeram todos
Que sendo poucos
Cedo
Se fizeram muitos
Porque se uns poucos
Soltos
Se afoitaram tanto
De tão poucos serem
Certo foi
Portanto
Chegarem a tanto
Quanto mais puderam
E dos poucos que eram
De tanto
Fazerem
Pouco a pouco
Os poucos
Muitos
Se tornaram.
- Jorge Castro
Beati pauperes...
Um homem morreu. Apenas um homem. Chamava-se, como outros homens, Karol Wojtyla.
Talvez seja um Homem, com dimensão maior que tantos outros. Quem sou eu para o avaliar...
E morreu, cumprindo-se um ciclo, tal como acontece com tantos outros homens, seus iguais. Seus iguais e seus irmãos.
Assumiu notáveis e especiais responsabilidades no mundo. A História (dos homens) apurará a valia do seu desempenho.
De tudo o que se possa dizer, uma coisa tenho como certa: o dispêndio nas exéquias fúnebres, para além de uma imensa operação de "marketing" da Igreja Católica, delapidará, por si só, recursos que ajudariam de forma substantiva a combater, por exemplo, o flagelo da fome no mundo. Não?...
abril 03, 2005
Efeméride: A Caixa de Pandora - aniversário

Pelo 2 de Abril, rumaram à Floresta
Celebrando de Pandora o aniversário Quarenta e quatro que fizeram uma festa
Neste tempo que é de festas tão contrário
Dos quarenta e quatro eu era só um
Se eu não fosse seriam quarenta e três
No entanto, como na pesca ao atum
Pouco pesa um, o cardume é que tu vês
E o cardume assentou os arraiais
Em afectos tão suaves qual camurça
E até eu no meio dos comensais
Encontrei uma outra OrCa, esta de Murça!...
abril 02, 2005
Mais um motivo de vergonha para a (des)Humanidade
A estilista (?) Fátima Lopes é um animal e como tal não deve ser esfolada, para que a sua pele venha a ornamentar, por exemplo, algum camelo .
Mas merecia porque, ao contrário de outros animais, é um animal estúpido e os animais estúpidos não sobrevivem ao seu desajustamento natural e extinguem-se.
Para se perceber melhor o que fica dito, dêem uma volta, se fazem favor, pelo blog VOZ OBLÍQUA, que se insurge, de uma forma determinada, contra o negócio abjecto das peles de animais... e, pelo caminho, pensem em formas ACTIVAS de contrariar este estado de coisas.
abril 01, 2005
Espaço placentário
"Aquela idade em que não tinha o coração magoado..." - Eugénio de Andrade
A dor
Como o amor
Nem lá cabiam
Nem havia ali espaço para a mágoa
O que eu era estava em mim
Porque sim
Porque era assim
E a vida corria, corria
(Nada em mim se encurralava
Em camião militar
Ou esmagado
Por gritos medonhos
Por névoas de fumo sem sonhos
Em manhãs acres de neblinas
Quase roxas de cinzentas)
Não, ali nem nasciam dias
Ou, então, se os havia
Eram dias tão redondos
Aqueles
Como a barriga das minhas pernas
Rechonchudas, esféricas
Pindéricas
Que nem me levavam
Nem se deixavam levar
Aqueles dias
E as pernas e o coração e as mãos
Todos redondos
Rechonchudos, esféricos
Pindéricos
Todo eu dentro de mim
Porque sim
Porque era assim
Que em mim a vida corria
Não se me dava o azul
Nem o verde, o amarelo
E se de súbito acordava
Algum som de consciência
Febril, atenta
Em meu redor só existia
Placenta
Por instante fugaz, quase sem tempo
Eu vivi tão intenso aquele momento
Só meu
Era só eu que ali estava
E era eu
E bastava.
- Jorge Castro
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