Acabei, mesmo agorinha,
de descobrir que este dia 31 terá mais um segundo
por imperativos de acerto cósmico...
Pois que esse segundo seja o do nosso abraço
e que ele tenha o tamanho do mundo!
Para os meus pequenos amiguinhos e amiguinhas, vou agora contar uma historinha de fadas que - vá lá saber-se porquê - me foi inspirada por um candidato às presidenciais o qual, por óbvias razões de elegância, não nomearei ...
(ser-se uma fada é que é
ter assim ali ao pé e sempre à mão
a varinha de condão
ter o dom de baralhar de supetão
só por graça porque sim ou porque não
o mundo todo
fazer - sabe-se lá - de caixinha de rapé
com um só gesto
a grandeza de um salão
sua beleza com certeza de estadão...)
onde dança ao som da valsa a Cinderela
sem chinela de atavio culinário
enlaçada com desvelo por um príncipe
e ao soar da meia-noite
- por fadário -
de cristal - bem bonito, por sinal...
deixará de si sapato solitário
esquecido na ingente escadaria
em fuga airosa numa abóbora para o quintal
transportada em tropel de rataria
oh pobre Cinderela do vestido de enxergão
não verás jamais o príncipe
assim valsante e tão belo
ao som pungente do derradeiro bordão
do alto do campanário
na sua mão o sapato peregrino e solitário
e tu calçada com esse cambado chinelo
mal tu sabes que a verdade nua e crua
oh criatura
é que se foste a Cinderela
da ilusão
ao soar a meia-noite viu-se então
que o teu príncipe dançando com candura
com tal brilho e tais foros de glória
mais não era que o bom do João Ratão
que viera já cozido de outra história...
- Jorge Castro
e, por fim, com os meus votos para que o ano de 2006 nos faça parecer longínquo rapidamente 2005 e nos prepare sorridentes, na face e na alma, para 2007, entretenham-se, também, com uma americanice simpática - que também as há - e que mão amiga me fez chegar:
http://megafesta.sapo.pt/ws.html

fale-me de si e da água...
... e que tal foi o natal?
sorte a sua de migrante
olhe que eu
afinal
nesta terra ao rés da mágoa
'inda hei-de voar sem asas
'inda hei-de ir mais adiante...
- poema e foto de Jorge Castro
A todos os meus Amigos e a todos os visitantes - que desejaria que fossem os meus próximos Amigos - gostaria de deixar, neste tempo transitório e fluido, a constância de um sorriso e a firmeza de um abraço, sendo que esse é o sumo que posso, devo e quero espremer desta época festiva.
ano a ano o Natal...
e sempre igual
resvalando em tal monotonia...
porque não talvez
fazê-lo ao mês?
ou - quem sabe? - ter Natal até ao dia
ficaria recorrente?
não discuto
seria ‘inda melhor tê-lo ao minuto
ou quiçá para aconchego deste mundo
abraçá-lo
tão intenso
tão profundo
no mais leve e breve trecho de um segundo.
- Jorge Castro

Hoje, na Biblioteca de S. Domingos de Rana
(Biblioteca Municipal de Cascais),
pelas 21h30,
terá lugar mais uma sessão de
NOITES COM POEMAS
O tema será Natal com sumo
e contaremos com o apoio de alunos de Escolas da zona
Pronto! Já sabemos que todos os co-analistas televistos e radiodifundidos são cavaquistas. Nada a fazer!...
Como qualquer lixo televisivo, só temos de o aturar se não exercermos aquele direito singelo de cidadania que consiste em desligar o aparelho nas trombas dos tunantes.
Temos, pois, uma democracia fraca que alia à sua debilidade de gestores em todos os níveis de decisão nacional uma cáfila de bobos da corte que apenas agita os guizos nas louvaminhas aos euros que lhes caem nos bolsos.
Não aceito, enquanto português, aqui e agora, que nenhum desses excrementos do poder ouse sequer pensar em condicionar a minha capacidade crítica ou de opinião, através de juízos pessoais ou de "sondagens" convenientes aos seus desígnios tão escandalosamente patentes e denunciados.
Vivemos, na verdade, num país pobre. E somos nós todos que assim o fazemos.
E assim o manteremos se não invertermos, cada um, comportamentos e atitudes.
(Sim, já sei que nada disso cai do céu! Mas não é menos verdade que nos tomba na cabeça!)
Assim, algumas reflexões provocatórias de um analista eventualmente manuelista:
1. O PSD quer Cavaco. Já cá se sabe - pelo menos enquanto não for poder. O PS (leia-se o de Sócrates, no poder), também o quer. Apenas assim se poderá entender o apelo dos altos dirigentes "socialistas" à desistência dos demais candidatos em favor de Mário Soares.
2. Esclarecendo: se Manuel Alegre será incómodo a Sócrates, duvido que Mário Soares não o seja também. Com o apelo à desistência, no limite, a derrota inevitável de Mário Soares logo à primeira volta, permitiria a Sócrates um suspiro de alívio, por não ter de levar nem com o Manuel Alegre, nem com o idoso jarreta que foi obrigado a engolir, ambos uns tremendos chatos com essas tretas dos humanismos e outras infantilidades do género!
E com o senhor professor das economias haveria todo o entendimento que as "superiores razões de estado" permitissem. Seria a "coexistência" à portuguesa. E já nem meto neste maquiavelismo luso o Louçã nem o Jerónimo, para não complicar mais o enredo...
Tudo ficaria consensual e coexistentemente podre neste reino da Dinamarca.
3. O centralão reinaria em paz celestial e o portuga apenas poderia ter por certa a "alternância" de poder que tem vigorado a qual tem, na verdade, transformando este país na casa de alterne em que está transformado.
(Vou ali vomitar... e já volto!)

ganhe duas vezes
o que na vida se perde
e não guarde para ontem
o que o amanhã lhe reserve
guarde só o que lhe ensino:
vir a nós aquele seu reino
não é por mal
é destino...
nós ganhamos o seu dia
guardando-lhe o mealheiro
e damos-lhe a pedra fria
para sentar
o traseiro...
- poema e foto de Jorge Castro
(Acabadinho de assistir ao debate televisivo entre Cavaco Silva e Jerónimo de Sousa...)
Há um candidato à Presidência da República que, qual pescada do Mar da Palha, antes de o ser já o era.
Há um candidato que, antes de o ser, até já obtinha larga (mas anacrónica e incongruente) vantagem nas “sondagens” a que temos direito, por absoluta falta de pudor dos “mentores” da opinião pública.
Há um candidato que um dia, por fim, resolveu descalçar as chinelas e… anunciar-se candidato a salvador da pátria, para gozo dos bonzos e felicidade dos filisteus, que dão pinotes, cambalhotas e coices para fazerem esquecer que este candidato, de mão dada com Guterres (diga-se em abono da verdade), é um dos grandes responsáveis pelo estado deplorável a que este país chegou.
Há um candidato que, firme e hirto e com um desempenho que EU (notem bem, que isto é apreciação pessoal, claro!...) reputo de lamentável e deprimente em qualquer dos debates em que participou – ainda para mais com regras que lhe são de feição – mal sai dos estúdios e logo explode um coro de bajuladores a tentarem recuperar e enaltecer cada reticência, cada sufoco, cada gargarejo por esse candidato emanado no seu desempenho titubeante e fruste.
Há um candidato que todas as forças da comunicação instituídas, umas activamente e outras por omissão cúmplice, fazem questão de nos meter pelos olhos dentro, com gritaria espúria de que “já ganhou! já ganhou!...”, passando a todo o portuga eleitor um atestado de menoridade cívica e, até, política que considero nojenta, vil e badalhocamente manipuladora.
Sim, que não sou ingénuo ao ponto de admitir que todas essas remelas da "informação" não estejam bem conscientes do gato que andam a vender!
Assim se percebem os “fenómenos” de “hipnose colectiva”, como o de Felgueiras!
Enfim, para não cair no mesmo vício e acabar por apenas falar desse tal candidato, direi que qualquer dos demais me tem inspirado, de longe, mais respeito, mais estímulo e mais interesse, no que à res publica respeita.
Coloco, então, pelos desempenhos a que tenho assistido até este momento, em estrito pé de igualdade e por ordem alfabética, o Francisco Louçã, o Jerónimo de Sousa e o Manuel Alegre.
Do candidato que “já ganhou” direi apenas que Boliqueime espera-o, com ansiedade!
Do Mário Soares… ainda não percebi a chalaça de se ter candidatado.
Com todo o respeito pela inteligência dos meus inestimáveis milhões de leitores (e mesmo correndo o risco de desagradar a alguns desses milhões), mas como exercício de cidadania de que não abdico - e invoco Ary, pois que “poeta castrado, não!” - aqui declaro que o meu voto, na primeira volta, vai, por razões de afinidade cultural e higienização mental, se quiserem, para Manuel Alegre.

natural mente
tudo ocorre
assim
natural mente
com a vida a esquecer-se de alguém
natural mente
numa esquina da cidade empedernida
e recorrente
e o natal do calendário
indiferente
a chegar em cada ano solidário
natural mente
e ninguém a dar por nada
natural mente
- poema e foto de Jorge Castro
figas no mar
à tona
átona
forma de estar
d'anémona
- poemículo e foto de Jorge Castro

os teus olhos predadores
denunciam sensuais
a violência da prisão
de uma vidraça
- poema e foto de Jorge Castro

cada gotejar de chuva
trazia à calçada
as janelas
para que os edifícios da cidade
pudessem
enfim olhar
para o céu
olhos nos olhos
- poema e foto de Jorge Castro

prendia-me a lua ao céu
minguante e prenhe de vento
por ela cavalgo as ondas
com elas vogo no tempo
- poema e foto de Jorge Castro