agosto 31, 2009
destino de férias (24)
Não sei se será por excessos de futebol ou de baixa política, mas ando com a sensação de que estamos todos a ficar mais burros. Burros, isso mesmo! Mas nada que nos assemelhe aos mui dignos representantes da raça equídea. Nada disso! Burros na acepção do calão que é sinónimo de ignorantes, obtusos e obstinados...
Vem isto a propósito de, no escasso espaço de duas semanas, ter assistido por duas vezes ao pré-pânico de grande parte dos meus companheiros de areal, perante o aparecimento, nas salsas ondas onde banhávamos as banhitas, de uma inofensiva alforreca. Ainda se fosse uma caravela portuguesa... Mas não, tratava-se, num e noutro caso, de uma alforrecazita de Lineu que o destino e a maré aproximaram muito mais da praia do que ela desejaria, se tivesse mais mão em si... e todos sabemos que as alforrecas, tendo vários braços, não têm mão alguma.
Num e noutro caso, também, um intrépido banhista, armado de uma pazita de plástico ou de um balde de fazer castelos na areia, trucidou e desmembrou o inofensivo e indefeso animal, perante o gáudio das massas, como se de algum feroz tubarão (dos filmes) se tratasse.
Pois é... até me assaltou um relampejo de versalhada, perante tão ingente manifestação de... sei lá bem de quê, eu...
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a alforreca
na praia
pela manhã
um intrépido banhista
solidário e de cueca
viu dar à costa dourada
coisa que raro se avista:
o pavor de uma alforreca!
não fosse o demo tecê-las
em matreirices de algoz
muniu-se
pronto
de um balde
atacando a fera atroz
que ameaça o arrabalde
alertou novos e velhos
e entrou pelo mar adentro
com a coragem dos bravos
- já lhe chegando aos joelhos
a façanha
o espavento
a água e os seus conselhos –
pois não daria dois avos
ou coisa mais ordinária
por perna que se queimara
com a cruel alimária
e a turba amontoada
aplaudindo a bravura
da intrépida criatura
riu dessa coisa horrorosa
ser de pronto chacinada
coitada
gelatinosa
a golpes vis
à pazada
e em cruel desventura
ser na areia amortalhada
trouxemos do outro mundo
a trabuco
e mil façanhas
coisas tais como o jindungo
p’ra nos queimar as entranhas
e agora
em praia amena
temos pavor de um bichinho
que nos queime a bela perna
povo bravo que deu brado
nas praias do mundo todo
mesmo sendo meia-leca
votado assim
deste modo
de balde em riste e com medo
à chacina da alforreca…
agosto 30, 2009
destino de férias (23)
Redondo e Estremoz
Prosseguindo num périplo alentejano e raiano, primeiro o Redondo, das louças, do cante, entranhados de vivências que mal sabemos já onde moram...
O azul do céu trazido ao rés das casas, em vizinhanças que no Alentejo são mais vivas e aparentemente óbvias...
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Também a monumentalidade e o asseio das ruas, a darem-nos lições de cidadania, a confundirem-se com o amor à terra, às raízes...
E a vista a perder-se nas lonjuras, tanta vez a ter de seu nada mais que o horizonte...
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De seguida, um salto a Estremoz, caindo a tarde. O tenor Tomaz Alcaide lembrado num recanto acolhedor -
«bendita a sua voz, cuja pureza / tendo o frescor da terra portuguesa, / tem o calor do Sol alentejano!».jpg)
Num apontamento breve, ressaltar o riquíssimo trabalhado das calçadas, em mármore, que pisámos tanta vez sem dar por ele, como se de perturbadora metáfora deste País se tratasse...
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Depois do chão, olhos ao céu, para se espantar o olhar com o inusitado das carantonhas que nos espreitam da chaminé, vigiando os nossos passos...
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Mais à frente, num ensurdecedor chilreio, a pardalada regressa dos campos, da sua faina diária em busca de sustento, vindo retemperar forças - vá lá saber-se porquê - nas árvores urbanas. E as ruas ficam em festa, nestes fins de tarde, com a algaraviada de milhares de aves, que vão chegando em revoadas constantes.
Não sei se alguém, com dotes de compositor, já terá atentado em tal sinfonia. A mim pareceu-me, escutando por momentos a estridência - que tanto me recordou as minhas queridas árvores mirandesas -, estar ali sobejo motivo para uma sinfonia campesina...
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agosto 28, 2009
destino de férias (22)
Monsaraz
No Alentejo, bem perto da fronteira, uma mão-cheia de quilómetros depois de Évora... Há quantos anos não visito eu Monsaraz!
As imagens que retinha, mantêm-se e com mais arranjo e limpeza. O xisto e o granito, empilhados pedra a pedra, ou ordenados nas calçadas centenárias, num grito contrastado pela cal e aquele azul intenso do céu alentejano...
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A cada esquina um recanto, uma paisagem que espreita pelo apertado das ruelas. Aqui a dificuldade é não nos deixarmos cair na tentação fácil do mero postal ilustrado... Mas devemos agradecer aos deuses das coisas pequenas o já não estarmos limitados aos rolos de 36 fotografias, ou estaríamos em maus lençóis com o orçamento de férias.
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Calcorreando as ruas da vila, para além do património edificado, ressalta a limpeza, preocupação constante das gentes alentejanas, e o seu afã diário em manter o espaço respectivo, na frente de cada casa, sem réstia de pó que seja...
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Aqui e ali, os pormenores arquitectónicos decorativos, transmitem-nos uma sensação...
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... intensa de que os objectos são entendidos como uma extensão de vivências humanas, muito para além, portanto, da sua funcionalidade imediata, pelo que há que lhes transmitir cor e forma, que melhor os afeiçoem.
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A inevitável subida ao castelo revela-nos, uma outra vez e em visão mais alargada, de edifícios e horizontes, a que os líquenes conferem certificado de autenticidade.
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Dentro do castelo, uma original arena centenária, palco de outras contendas entre homens e bichos, que vêm de longe mas, aparentemente, se exceptuarmos o limite mínimo da sobrevivência, nunca terão sido muito conclusivas...
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De novo, a vila. Outra rua, outros encantos, outra oportrunidade para meter conversa e tentar apurar o porquê de algumas coisas, nem que seja para se ouvir um diz-que-disse, mas sempre temperado pelo sabor (e pelo saber) do linguajar local.
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Depois da breve troca de palavras, certificando, ao de leve, que a vila é mais do que as pedras e o barro, o encaminhar-se cada um para o destino que vai traçando, com os amparos que lhe couberam em sorte...
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Enfim, o repasto. A oferta é imensa, muito diferente do que ocorria quando, há mais de vinte anos, visitei Monsaraz.
Após breves hesitações, entrámos do restaurante Alcaide. Esplêndida vista para a planície, a temperar de forma excelente as tradicionais entradas de queijo e azeitonas - mas com os sabores que dificilmente encontro nas urbanidades que frequento.
Um régio vinho alentejano, a fazer as honras a um assado de bochecha de porco de fazer chegar uma lágrimazita ao canto do olho, de pura alegria...
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E com tais manjares, porque não abrir mão do pormenor e deixarmo-nos cair na tal tentação do postal ilustrado, agora que não está ninguém a ver?
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À cata do artesanato, tão genuíno quanto possível, espanto-me - sempre esta palermice de me espantar com coisas óbvias - com o facto daquele que me pareceu ser o melhor estabelecimento aberto ao público, para essa área, ser dirigido por uma senhora holandesa, de seu nome
Mizette Nielsen, residente em Portugal desde 1960. Afável, simpática, bem humorada, disponível para explicar o porquê das coisas, desde uma manta tradicional à qual um novo design transformou em moderna capa, até às dedeiras de cana com que as ceifeiras protegiam os dedos: «-
Sabe, agora isto já não é preciso, portanto há pouco quem as faça...».
Breve Viagem no Alentejo, é um livrinho por si publicado, com versão original, texto e pesquisa de Robert e Jane Wilson, e actualização de Maria do Carmo Piçarra, excelente roteiro da região... e que já cá canta, com autógrafo e tudo!
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À porta do estabelecimento, um olhar cheio de condescendências perante os citadinos de um outro habitante, descansando ao abrigo do Sol inclemente das duas da tarde...
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Com o rio Guadiana por perto e a edificação da barragem do Alqueva, esta região pode ter ganho outros motivos de interesse.
Por mim e ponderando alguns dos inconvenientes destas barragens artificiais, não posso deixar de referir o encanto que advém dos espelhos de água a enquadrarem a planura alentejana.
Possam eles ser, então, uma riqueza efectiva para as gentes daquelas terras, mais do que instrumentos de novas explorações «coloniais», outros abandonos e mais empobrecimento. E para a fruição de todos.
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Antes da partida, uma rápida visita, em romagem, a alguns monumentos megalíticos em que aquela área é fértil - 150 vestígios do megalitismo rodeiam Monsaraz - testemunhos que (se desejaria) perenes de uma ocupação de vários milénios, contrariando esse conceito limitativo de que a nossa História começou nos Afonsinos, há apenas oitocentos e tal anos, quando há tantas e tantas marcas de uma ancestralidade que, a contar-se, leva já para cima de várias dezenas de milhares de anos.
Aqui vos deixo um mui digno representante do que ficou dito: o menir do Outeiro, nos arredores de Monsaraz. Dele, Torga disse: «falo sagrado... alada tesura de granito, que da terra emprenhada, emprenhas o infinito». E fiquem-se com essa!
agosto 25, 2009
destino de férias (21)Setúbal
Massacotes... Alcorazes (leia-se alcorrazes)... Sabem do que se trata? Pois bem, Setúbal será destino adequado para o descobrirem. Se a estranheza do nome vos fizer duvidar do sabor, pois fiquem-se vocências pelo tradicional choco frito e não ficareis nada mal.
Se o orçamento vos permitir, reguem tudo com um Dona Ermelinda, ali de Palmela, mesmo ao lado, e estarão bem encaminhados os vossos fados. Passe a publicidade, aqui vos deixo uma sugestão:
A seguir, para desmoer o lauto almoço, um passeiozinho ao rés da água, visitando glórias de outrora que ainda se fazem ao mar...
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... ou, até, descobrir coisas tão improváveis como esta de uma ponta do verde ser cor de laranja... Talvez pré-avisos das campanhas que em breve nos assolarão.
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Mas, muito exemplarmente, atentar nesta informação/advertência à beira-estuário plantado...
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... e, logo depois, observar a olímpica indiferença, perante o perigo anunciado, que o comum cidadão assume.
Não havendo aqui falésia de derrocada iminente, dir-se-ia que o povo afronta a desgraça com o mesmo ímpeto marinheiro que deu novos mundos ao mundo... (NOTA - o aviso acima encontra-se profusamente distribuído ao longo do paredão - vide ali nas traseiras da senhora de verde-amarelado).
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Perante tanta valentia, tanto pundonor, não será de estranhar que as fortificações fiquem sem serventia. O povo vai à luta de peito aberto e mãos vazias e o que tem de mais certo é que, desde que não perca, até poderá sair vencedor... por outro lado, não havendo ventos de feição, empata. Mas nisso também somos bons...
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Entretanto, numa simpática homenagem ao Homem do Mar, um monumento evocativo à sua lide e à sua fé. Em fundo, a nova Tróia...
E, vá lá saber-se porquê, dei por mim a parafrasear o Pessoa:
Deus quer, o Homem sonha... e o Belmiro lá vai construindo!
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Pergunto-me, até, porque não sobram a estes furiosos edificadores do cimento, ímpetos que os aconselhem ou estimulem a recuperar o sem-número de belíssimas casas em adiantado grau de degradação em que a baixa de Setúbal é fértil - e, também aqui, me parece ver o significativo gesto que a figura altaneira que se divisa no topo de um desses edifícios nos faz. O preclaro Zé Povinho não o faria melhor.
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(Crónicas de maldicência? Se calhar... Mas tenho tantos motivos para me orgulhar deste nosso Portugal como aqueles que me enchem de vergonha. Fico-me, então, assim, nestas meias tintas de dar uma no prego e outra na ditadura, como se diria nos idos de Abril... À espera de outro Abril.)
agosto 23, 2009
destino de férias (20)
Monserrate (Sintra)
Não sei se isto se passa convosco, mas eu, quando estou muito tempo sem me sujeitar à imponência do verde, fico em carências iguaizinhas àquelas que a separação do mar me dá.
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Daí, ter rumado a Sintra, após ter ouvido uns zunzuns acerca do Palácio de Monserrate estar a ser reabilitado. Embora, a ver, que a última imagem que dele tenho, vai para uma mão-cheia de anos, era abaixo de deprimente, face ao seu total abandono e ruína.
Assim como assim, ganharia na mesma, em alternativa, com uma passeata pelos seus jardins...
Entrada a 5 euros, que parece constituir uma espécie de cartel entre entidades para definição de entrada em monumentos nacionais. Mas, para estas coisas, tendo a nem olhar muito aos custos...
E lá estava o palácio, sim senhor. Em plena recuperação, mas já com alguma coisa para ver, ainda que, ao contrário do que observei noutros destinos de férias, por cá nunca se veja ninguém a recuperar nada. Vê-se que está tudo em obras e já não é mau... Deve ser trabalho nocturno, para não apoquentar os turistas.
(Esta é, notavelmente, uma boca foleira, mas que é que hei-de fazer ou dizer perante estas evidências?)
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Espreitando cá de fora e entrando, depois, nas zonas já visitáveis - atenção, nada de fotografias lá dentro! -podemos ter já uma ideia bastante precisa acerca da riqueza decorativa de tal espaço. Constou-me, entretanto, que os últimos proprietários leiloaram grandíssima parte do recheio, pelo que a autarquia se propõe reconsituir os mobiliários, estatuária, etc., etc.
Aí, valentes! Contam com o meu apoio, mesmo que elevem o preço das entradas...
Curiosidade satisfeita e anotações tomadas, lá fui dar a voltinha pelos jardins.
Aqui, a sensação que me ficou é a de que o abandono cavou aqui marcas profundas, também. Senti o espaço muito pior tratado do que na minha última e longínqua visita.
Mas saudei a velha araucária, com a imponência dos seus 50 metros de altura, bem como muitas das suas companheiras vegetais que por lá nos recebem.
Ao deitar-me no... ia dizer relvado, mas é mais certo chamar-lhe ervado, a contraposição da pequenez delicada com aquela desmesura vegetal...
Aqui e ali, uns recantos onde a beleza natural disfarça uma gritante falta de água em tudo que sejam locais para a dita.
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À saída, duas quimeras acenaram-me a despedida. Quimeras... Bem precisados andamos delas, se soubermos encará-las com os pés bem firmados na terra.
Agora, vou-me. Tenho música ao vivo cá por casa. (Hehehe... Há quimeras assim, mais próximas do que as outras... Fiquem bem e façam o favor de ser felizes, como diria o velho Solnado).
agosto 22, 2009
destino de férias (19)
festival sete sóis sete luas
com Gema Jiménez
Volto a dizer que não sou um incondicional ou, sequer, grande aficionado do flamenco. Há coisas assim, ou nos estão entranhadas e gostamos, mesmo sem preocupações de porquês, ou lhes reconhecemos mestria na interpretação, podem mesmo chegar a «mexer» connosco, mas fica-nos sempre um distanciamento de alma, a que alguns chamam cultura.
Mas também a idade nos pode (e deve, digo eu) refinar o gosto e torná-lo mais abrangente, para além da mera condescendência.
Vem à colação a exibição de Gema Jiménez a que assisti na Fábrica da Pólvora, em Barcarena, integrada no festival Sete Sóis Sete Luas.
Excelentemente acompanhada por um guitarrista de primeira água - onde e como é que, a propósito, os espanhóis cultivam tanto guitarrista de qualidade...? -, assistimos a uma demonstração mais da força e vontade de viver (mesmo quando da morte se fala), em que nuestros hermanos são pródigos.
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Dois dançarinos mais completaram o
bouquet flamenco, também eles com aquele batimento de palmas impossível de acompanhar, a não ser por iniciados, e com uma fúria no sapateado de nos pôr os cabelos em pé.
Lá está: proporcionaram a quem assistiu, sem grandes problemas de divergências ou distanciamentos culturais, um despertar de emoções... E é suposto ser para isso que a Arte serve.
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Uma pobre nota: algumas debandadas de público em plena actuação - e porque custará a crer que a todos tenha assolado uma simultânea e intempestiva necessidade de deslocação aos lavabos - denota um lamentável desrespeito quer pelos artistas, quer pelos espectadores ineteressados e denuncia a grosseria em que o portuga anda a deixar-se mergulhar.
Mais alto do que a intensidade do sapateado, fez-se sentir o som cavalar dos cascos de tanta besta!
agosto 21, 2009
destino de férias (18)
- fotografia de Jorge Castro
Prelúdio em tom maior, de afinada sinfonia assardinhada. Na rua, sob um dossel de árvores. Abertura com um moscatel estupidamente gelado. Pão saloio, à espera dos óleos essenciais. Vinho, de preferência, bom e tinto. Queijos, vários, nacionais, amanteigados ou nem tanto. Conversa da boa, com amigos, sem horas nem compromissos. Fruta fresca e fria, quanta se possa. Um café, cheio ou curto, com ou sem açúcar, a gosto. Um medronho, gelado também, com aquele sabor da terra. Um Porto, talvez, ou um Carcavelos...
Pelo meio e quase em ritual à sardinha, até há quem diga um ou dois poemas alusivos ao repasto e ao convívio.
A tarde corre amena e prazenteira. De seguida, um passeio junto ao mar... Um pôr do sol, a que algumas nuvens emprestam profundidade...
agosto 20, 2009
destino de férias (17)
Prosaica e tranquilamente, sentado numa cadeira de praia, lendo um bom livro e vendo o tempo passar, neste magnífico areal que é Carcavelos... desde que não haja criancinhas aos gritos, paizinhos a gritar com as criancinhas, esplendorosos jovens aos pontapés numa bola contra tudo o que mexa ou sonoridades de «bate-estaca» e «animação», pelo menos num raio de trezentos metros.
Enfim, o paraíso ao alcance de todas as bolsas... Pelo menos, até às onze horas que, depois, vêm de lá os ultravioletas normalizados e está tudo tramado! É a debandada geral! Mas eu abençoo o meu guarda-sol amigo, companheiro de vinte anos de sol e mar, que alguma ferrugem já perturba, mas que permite precaver-me contra estes perigos e desfrutar esta espécie de «terra de ninguém temporal», quando a pressão popular se atenua...
E passa o veleiro, passam as meninas, passa o casalinho, os banhistas passam o dia banhando-se na água muito razoavelmente limpa e eu passo a minha manhã a ver tudo passar... O forte, esse, não passa, fica. E deixa-se para ali estar a impor presença e moldura à praia...
Uma manhã mais, passada, a aproximar-me do tempo das maiores ralações e faltas de ar: crises, gripes, Iraques, (des)empregos, eleições... Mas, hoje, respiro esta bonomia que Agosto traz a esta terra, ainda assim beijada pela benção da Vida.
agosto 19, 2009
destino de férias (16)
Convento de Cristo - Tomar
Castelo de Almourol
A escassa hora e meia de Lisboa, um destino que já não visitava há cerca de vinte e cinco anos: o
Convento de Cristo e o Castelo dos Templários, em Tomar. Levava comigo alguma curiosidade em saber o estado de conservação deste extraordinário monumento, que então vi muito mal tratado e em preocupante devassa.
Magnífico conjunto arquitectónico, actualmente classificado pela UNESCO como património mundial, testemunha-nos grandezas e mistérios passados... ao lado de algumas fraquezas da nossa História mais recente...
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A profusão decorativa, o rendilhado da pedra, a emprestar elegância e leveza à força bruta, não cessa de causar a minha admiração, até pela mestria das mãos que a executaram...
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A profusão de claustros, a arquitectura e beleza cenogáfica de cada recanto, podem recomendar horas de contemplação.
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A charola (século XII), em fase de restauro, é destino obrigatório...
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... tanto quanto a janela do capítulo, do convento, da autoria de Diogo de Arruda,
ex-libris deste conjunto monumental.
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Um pequeno senão: se excluirmos o senhor que cobrava as entradas e a senhora que se afadigava, junto à charola, para que ninguém «fotografasse com flash», não topei com ninguém que pudesse ser interlocutor da visita. Também a loja encerra, salvo erro, entre o meio-dia e trinta e as duas da tarde, por falta de pessoal - ou de verba disponível, digo eu...
Sem estar para aqui com paranóias securitárias e apreciando mesmo alguma ausência (ou discrição) de vigilantes cuja imposição de presença pode incomodar o enlevo de uma visita deste tipo, verdade é que alguma presença humana institucional se recomendaria, como aconselhará o bom senso e atendendo a algumas posturas de «crianças sem pais à vista» e de adultos curiosos e recolectores em demasia. Nem oito nem oitenta...
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Cá fora, já no estacionamento - que, para não destoar do panorama nacional, toda a gente parece ter-se esquecido de concluir e rematar, cheio de buracos, pedras soltas, poeirada e outras minudências -, uns poucos postos de venda, com fruta e outros mimos da região, que não me pareceram nada mal.
Já profusamente abastecido com os bons sabores dos velhos tempos - ah, as delícias da fruta fresca sem frigorífico! - louvo, então, esta iniciativa individual e muito privada - quem sabe um bom exemplo de parceria público privado... -, que não deixa de representar uma mais-valia à visita e - porque não? - uma originalidade nossa, de qualidade, em destino turístico.
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Como fica provado, até os olhos se riram...
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Descendo até Tomar - onde não encontrei, nos restaurantes onde procurei, um prato típico da região, com a honrosa excepção de um doce de ovos, ficando-me pelo que se come de norte a sul - revisitei o jardim em volta do rio Nabão...
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... onde, em certo trecho, me imiscuí numa eterna conversa e mantive o diálogo possível com o maestro Fernando Lopes Graça e Fernando Araújo Ferreira (poeta e homem de cultura da terra). Na verdade, o Sol estava a pino e o conjunto, em bronze, fervia...
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Junto à praça onde se encontra a estátua de Gualdim Pais, o fundador da cidade, não pude deixar de notar que, no meu lado direito não visível na fotografia, e tendo por trás de mim o edifício da Câmara, existia um lugar de estacionamento privado da autarquia.
Ora, havendo um enorme parque de estacionamento a escassos 50 metros dali, não deixa de ser bizarra aquele mordomia, até porque a viatura estacionada, por muito BMW que fosse, nada tem a ver com o demais contexto.
Se calhar, é um reflexo dessa mania que alguns autarcas têm de que «aquilo» é deles, enquanto lá estão, e não sempre dos munícipes... Aqui fica a nota, à consideração.
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De regresso a casa, uma paragem junto ao
Castelo de Almourol. Um barquinho, no cais, que transporta os visitantes por 1,5 € (ida e volta) - que não dão, aparentemente, direito a que o senhor barqueiro auxilie nas entradas e saídas dos passageiros -, numa viagem de 5 minutos... e, depois, o deserto. Ninguém e nada que nos despertasse para a aura de mistério e romantismo que este lugar evoca...
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Uma vez mais, adivinho a falta de verbas (e de visão), que devem estar a ser arrecadadas para os tgvês das megalomanias, enquanto o passado e o presente se nos esboroam aos pés, apenas deixando lodo e areias para o futuro...
Que diabo, era dia da semana e eu contei para cima de oitenta visitantes, na horita que ali passei. Essa afluência não poderá justificar a permanência - pelo menos, em período de Verão - de alguém que, em tão privilegiado espaço, nos trouxesso história, contos e lendas do sítio, acrescentando saberes àquilo que os olhos enxergam?
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De resto, uma esplêndida vista para ambos os lados do Tejo, num castelo absolutamente sem recheio algum, para além daquele que as pedras sustentam...
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Fica no ar uma certa nostalgia pelo futuro, que, do passado, parece não haver nada para dizer. Uma certa amargura e acidez, também, talvez induzida pelo excesso de Sol, mas isto de destinos de férias nem sempre nos saem de feição, a cem por cento.
Mas a visita, ah, essa recomendo vivamente! Lugar de inspiração para quem a tenha. E que, como é sabido, é coisa arredia mas, ainda assim, baratinha.
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