outubro 29, 2009
alienação... ou talvez não
Com a devida vénia ao Google, mas sem cobrar nada, também, pela publicidade, aqui deixo o meu abraço a esses nossos ancestrais, Astérix e Obélix, que me deliciaram nas imberbes meninices como na «idade da experiência». Aliás, essa será a diferença subtil entre épocas da nossa vida: a idade das experiências e a idade da experiência... Entendam-se sempre ambas como valores relativos, claro.
Nos jornais, nos noticiários de rádio e tv, mais um atentado, no Médio Oriente, com não sei quantas centenas de vítimas, uma criança a morrer de gripe A ou talvez não, com deficiente assistência ou talvez não, uma mão-cheia de pequenos tubarões da costa portuguesa que foram constituídos arguidos em mais um intrincado mistério que será insolúvel, como todos os mistérios dignos desse nome, em que somos férteis, ou talvez não...
Depois, a xaropada dos futebóis em que apenas me consigo espantar com a capacidade infinita de se poder comentar até ao infinito com baboseiras, lugares comuns e absolutas faltas de senso com os quais, apesar disso, toda ou quase toda uma comunidade se deixa envolver, como se disso resultasse o pão que falta às bocas.
Há um padre pistoleiro, ou talvez não. Uma criança russa abusada por um tribunal português, ou talvez não. Um espectáculo ao vivo feito por um artista ao morto. Há um índice qualquer que regista que o cidadão português pode contar, por vida, com cerca de quarenta e tal anos de felicidade, o que, sendo simpático e auspicioso, é pouco credível.
E há o Astérix e o Obélix, se calhar filhos dos nossos ancestrais avós, mais consistentes, mais reais, mais próximos do que toda aquela chusma de delírios em que os noticiários transformam o nosso mundo quotidiano.
Valha-me uma poção mágica que me proteja da invasão noticiosa, bem mais invasiva do que a romana...
outubro 27, 2009
o fado, de Malhoa
fado
de ferir como punhais
tempos houve era de amor
ciumeiras
coisas tais
(será hoje
outra conversa
bem mais sonsa
mais preversa
e vem sempre nos jornais)
um Amâncio
uma Adelaide
da facada em rosto aberto
ele canalha
ela mortalha
mas de peito descoberto
se Malhoa
os descobriu
nalgum recanto do céu
mal ele sabe o quanto viu
naqueles dois
que é tanto meu
- poema de Jorge Castro
Anda tanta Amália no ar, que também me achei no direito de fazer uma breve incursão por referências obrigatórias. Não sei se teve algo a ver com uma tomada de posse a que assisti hoje... Mas o mais certo é não.
outubro 24, 2009
diversos, plurais, úteis
Dir-me-ão que águas passadas não movem moinhos, mas tal não vem ao caso por não ser esse o objectivo desta entrada, o mover moinhos... Apenas apontamentos dispersos de recentes acasos em que me deixei envolver, ao longo desta semana que passou e que representam outros tantos exemplos de que a Terra ainda roda sobre o seu eixo e à volta do Sol e no concerto sideral.
Em Santo Amaro de Oeiras, uma comunidade de moradores promove encontros de vizinhos, cria feiras de bairro, organiza eventos musicais, divulga e protege a miríade de aves que habitam um espaço ainda frondosamente vegetal...
O meu chapéu por tanto afecto. Pareceu-me até, divisar numa velha árvore um discreto sorriso de cetáceo, congratulando-se com tanto desvelo.
Em Carcavelos, reatada a tradição da procissão de Nossa Senhora dos Remédios, a comunidade agita-se, entre fé, devoção ou mera curiosidade, em torno de, afinal, um pretexto mais para as gentes se encontrarem...
... ou as forças vivas darem um ar da sua graça, reconquistando e devolvendo, ainda que por breves momentos, o espaço urbano para outras graças que transcendem a sem-graça do ramerrão quotidiano.
A Banda da Sociedade Recreativa e Musical de Carcavelos que mantém um invejável currículo que ultrapassa a centena de anos.
Num salto à Sociedade Portuguesa de Autores, com o
Pedro Barroso e o seu último livro, editado pela editora
Temas Originais, caímos no braço dos
Contos Anarquistas, expressão de ser e de estar a ver e interferir no mundo à nossa volta...
... num exercício de cidadania partilhada - se me for permitida a redundância - em forma de pequenos contos saídos da alma que temos. Eivados, também, daquele modo danadinho de ser e de estar que nos enforma e que um olhar interessado captou, para próprio e alheio desfrute.
Pela livraria
Ler Devagar, foi ontem o lançamento de uma revista de artes, a
Inútil. Uma sala cheia de gente que se preocupa com essas deliquescentes inutilidades em forma de música ou poema ou fotografia ou... seja lá o que for que passe pela cabeça de alguém, na qualidade de ser vivente, que lhe basta. Uma coisa
Inútil, pois, que não será demais...
Em remate de apontamentos, aquele a que crinhosamente chamarei de maduro, o Michel, que pela Ler Devagar expõe, há largos meses, os seus objectos moventes - que explica e descreve com minúcia a quem mostre interesse em ouvi-lo -, construídos com restos de quase tudo e com os quais reconstrói o tempo, a cidade, o universo.
Deles fala com uma evidência lógica que apenas pressentimos através das suas palavras, mas a que rapidamente aderimos, se o quisermos, com um brilho menino no olhar que mais não é, afinal, do que a cumplicidade que ele busca, para que o seu universo faça sentido...
outubro 20, 2009
passeio das mouras (V)
Irei hoje concluir o brevíssimo resumo deste Passeio das Mouras, em que participei, entre os dias 2 e 5 de Outubro, por terras de Lamego, Tabuaço e Castro Daire.
Ainda no dia 4, caía a tarde, e a poucos quilómetros de Castro Daire decidimos, em boa hora, fazer um desvio do caminho principal para um destino não programado, mas cujo nome nos suscitou curiosidade: Moura Morta.
Mal chegados e tivemos pronta confirmação da boa escolha feita. Regressados a uma viagem no tempo, dir-se-ia, ao passar pelo vetusto de construções e empedrado, em que o forte e omnipresente odor a estrume de gado, antes mesmo de tropeçarmos com ser humano vivente, nos dizia estarmos ainda numa comunidade viva.
Pelos demais companheiros de jornada não posso falar, mas, quanto a mim me respeita, dir-vos-ei que tudo se conjugava para me transportar às minhas memórias primordiais, passadas em terras transmontanas dos avós maternos.
Do inusitado da denominação da terra nos falou, em forma de história em verso, a D. Célia Matias, a quem fomos levados por uma embaixada de mocinhas dos seus dez anitos, outra prova da vitalidade da terra...
Talvez a mera intenção de efeito decorativo não o tivesse pensado, mas a mim pareceu-me estar ali um verdadeiro
ex-libris da povoação, que nos saudava mal entrámos em Moura Morta...
... Depois, alguns dos responsáveis pelo olor que cobria a povoação entraram em cena, à hora do regresso das pastagens, bamboleando a sua pachorrenta mas determinada caminhada, mil vezes calcorreada, a causar apreensão aos citadinos.
Nem a suave beleza da pelagem fazia esquecer a cornamenta, que parecia atravessar a estreitíssima estrada, de lado a lado...
Dia 5, já próxmos do termo do passeio, foi o momento de visitar o Mosteiro de Santa Maria de Cárquere.
Ali por onde vagueiam lendas de D. Afonso Henriques, fomos espreitar, por detrás do altar-mor, a pedra sobre a qual teria ocorrido o milagre que lhe curou as pernas e salvou o reinado, mandando a boa-fé acreditar que assim teria nascido Portugal, ainda que a prudência aconselhe outros aprofundamentos e estudos que permitam casar a lenda com a realidade, tanto quanto o correr dos séculos o permita.
No segundo altar da nave principal, um misterioso segredo:
- o altar móvel esconde uma série de pinturas murais, das quais não logrei apurar a origem.
Como habitualmente, quem sabia partilhava o seu saber com os demais, em enriquecedoras palestras de circunstância, que deram outro tempero à viagem.
Aproximava-se o remate da aventura. Apeteceu-me colocar aqui, quase como corolário do passeio, a
Menina Sol, pintura da nossa companheira de viagem, Aline Daka...
... que veio do Brasil para ser recebida pelas magníficas cores outonais com que os nossos campos se vestem.
Porventura, por estas e por outras, a nossa proverbial fama de hospitaleiros...
Eu dei por mim a jogar ao Jogo do Galo, lançando caruma de pinheiro e bolotas sobre o velho granito da escadaria perto do Mosteiro, pois a cada um a sua arte própria de buscar o segredo das coisas...
... como a Fernanda Frazão nos parece mostrar, sob o olhar aquiescente da Manuela.
Havíamos, ainda de seguir para o Mezio, para uma lauta e tradicional refeição de feijoada de chouriço.
Mas, de algum modo, ficou ali, junto ao Mosteiro de Santa Maria de Cárquere, escrito o encerramento do Passeio das Mouras, reflectido o céu no tanque onde repousavam as flutuantes folhas do Outono, num toque de melancolia que rima bem com estas circunstâncias.
À nossa anfitriã, Maria Estela Guedes (ver TRIPLOV), os nossos agradecimentos por este transporte ao mundo real dos sonhos. Haveria que muito esmiuçar para revelar uma falha na organização e que, afinal, apenas serviria para lhe realçar o brilho de todo o enredo.
(há quanto tempo não recorria ao verso branco...)
nada digo de meu
mas a voz ecoa-me no silêncio dos labirintos
coisas de nada
nexos esparsos na bruteza dos dias
onde a pele se nos muda
no atrito áspero dos caminhos
percorridos
nada digo de meu
mas a fronte lateja-me em cada palavra solta
ali
onde o vento fustiga
a carne viva das falésias
abismo que os meus pés pressentem
atraídos por poentes luminosos
nada digo de meu
mas fere-me esta vontade de gritar
que se rasga na garganta
em tom de fado
encenado por um actor impávido
num palco sem plateia
buscando uma deixa que alivie o olhar
já cego de tantos projectores
por fim
epitáfio
nada digo de meu
de resto
são só palavras o que tinha para vos deixar
outubro 18, 2009
sem tempo
há tão pouco tempo
para o tempo
que ao passar por nós
nos leva o tempo
de ter tempo p'ra dar voz
ao nosso tempo
sobrevem depois o vão intento
de não ser em vão o pouco tempo
em que tento
emprestar-lhe um novo alento
mas o tempo a destempo
dá-me tempo
num espaço fugaz
num contratempo
de dizer
afinal
que estou sem tempo
outubro 12, 2009
noites com poemas e com Paula Raposo
intervalo no passeio das mouras
Dia 15 de Outubro, quinta-feira, pelas 21h30 - Biblioteca Municipal de Cascais,
em São Domingos de Rana
Convidada: Paula Raposo
Colaboração de Ilda Oliveira, Clarinda Galante e Maria Francília Pinheiro
Tema - Marcas ou Memórias do Vento
Sabem como é... Um dia descobrimos-lhe uma leve penugem, que amanhã é já pluma. Depois, asa. Daí ao golpe da dita tudo vai da vontade, do ímpeto. Um poema a modos que assim, como diria o poeta, logo mais é um poema a modos que ah, afinal ali há coisa.
Ouve-se, diz-se, partilha-se... e nasce um livro. E mais outro. E outro, ainda. Blogs por todos os poros e também já fotografa como gente grande.
Eis a autora. Um dia, o desafio: - Não eras mulher para fazer uma Noite Com Poemas? - Com ajudas? - Claro... as Noites querem-se, também, uma eterna entreajuda.
- Só por isso, já agora lanço um novo livrinho de cordel, da Apenas, nesse dia! Será o Marcas ou Memórias do Vento...
- Ah, é? Então, força! Venham daí. A Paula Raposo não há meio de estar sem escrever. Até parece um nervoso miudinho. Um vício. Uma janela aberta ao mundo, que partilhará com quem muito bem lhe aprouver aparecer.
Depois, o habitual espaço para a troca geral de galhardetes, onde muito me apraz contar convosco.
outubro 11, 2009
passeio das mouras (IV)
Dia 4 de Outubro - Destino: Granja do Tedo. Tanto quanto se sabe, mais uma reminiscência do já referido cavaleiro D. Tedon.
A povoação, incrustada na serra e na verdura que a recobre, desvenda-nos os recantos encantados que, misteriosamente, vamos sabendo preservar, contra a voragem dos «progressos»...
... ainda que logo alguém nos recorde a quantas duras penas tal ocorre.
Entretanto, a visita trazia «água no bico».
Quem havia de saber (se ninguém no-lo contasse) que, lá por meados do século XIX, uma mulher, Maria Coroada de sua graça, encabeçou um original movimento que, com sede na Granja do Tedo, subverteu usos e costumes - decretando, nomeadamente, o fim dos casamentos -, instaurando uma nova ordem da qual se perderam quase integralmente os ecos?
Deixo-vos uma pista possível: tentem encontrar o Turismo de Tabuaço aberto e perguntem sobre a matéria... Ou, então, mais simplesmente, tentem ouvir da boca dos próprios habitantes da Granja do Tedo que decidiram assumir esta herança, até através da atribuição de toponímia evocativa.
Parece que um velho alfarrábio, descoberto em Paris, nos conta a história. Alguns afortunados possuem uma cópia. Conto vir a ser um desses...
Enquanto isso, fica-nos a grandeza evocativa das pedras - uma vez mais e sempre, aquelas que resistem à voragem do tempo...
Como um velho pelourinho que, enraizado no meio de um povoado, parece pregar naquele chão a sua alma... Talvez que por isso haja por eles um especial cuidado.
A água de um fontanário regista a passagem de um olhar interessado que, vindo de longe, lhe sabe a proximidade...
De novo em viagem, repassámos por um dos flagelos mais recorrentes dos nossos dias: os incêndios. Do dramatismo de um fogo vivo à desolação dos campos ardidos, venha o Diabo e escolha.
Em qualquer caso, este parece ter passado a ser um companheiro constante e não desejado do viajante.
Ora aí está um bom motivo, se mais não houvera, para justificação destas viagens, aos olhos do viajante curioso: saber da existência de uma Ordem Premonstratense...
Para além disso a inevitável curiosidade que decorre da profusão de assinaturas (siglas) que os canteiros espalharam por toda a edificação, a desafiar-nos a inspiração para solver tal atiitude ou o que terá presidido à sua confecção.
No exterior, dir-se-ia o explícito implícito, a agravar a charada que este monumento suscita...
No interior, de novo uma Senhora da Conceição que se apoia no mundo que uma cobra rodeia...
... nem faltando, nesta imagem, o transporte da maçã, numa sugestão que, a meu ver e no que ao meu parco saber respeita, carece de melhor e maior aprofundamento.
Pelo sim, pelo não, o conforto relativo de uma outra imagem que parece reconduzir os conceitos ao seu eixo normalizado.
Perante a originalidade das diversas sugestões e desafios que os - chamemos-lhes assim por facilidade de enquadramento - elementos decorativos suscitavam, as explicações ou interpretações de quem sabe mais sobre a matéria, a trazer literalmente mais luz ao assunto.
No exterior, como no interior, maiores as sombras do que as personagens, cenário que o Sol do fim da tarde propiciava.
E, uma outra vez, nos fica esta perplexidade perante uma grandiosidade e riqueza patrimonial, histórica, que não se pode medir e que não pode deixar de nos correr nas veias e ser matriz do nosso ADN mas que anda tão arredia da nossa cultura hodierna.
Para encerrar este capítulo de tão rico passeio, uma foto de família (incompleta), iluminada pelo fugidio pôr do sol que, pelas serranias, nos foge mais cedo e sem aviso, mas ainda a tempo de criar uma auréola, talvez ténue e fugaz, mas que confere, assim mesmo, diversa qualidade aos que se deixam beijar pela curiosidade e abraçar pelo saber.
Ah, é verdade! Hoje houve eleições. Eu fui votar, claro. Espero que também tenham ido. Hoje estivemos a escolher aqueles que estão mais próximos das coisas de que tenho andado a falar, partilhando convosco este Passeio das Mouras. Aqueles que ficam com a particular responsabilidade de fazer chegar, condignamente, estes testemunhos às gerações vindouras.
Esperemos que eles encontrem artes e saberes para que assim seja, pois, a cada passo dado, me fica mais arraigada essa certeza de que esta coisa da «portugalidade» ainda tem muito que se lhe desvende e muito mais, ainda, que dela se diga.
outubro 08, 2009
passeio das mouras (III)
dia 3 de Outubro - Por Lamego, contámos os minutos para cumprir projectos: bairro do castelo, castelo, catedral e museu...
Pelo caminho, um relance ao Teatro Ribeiro Conceição onde, na noite anterior, decorreu o Filo-Café. Já nos clautros da Sé Catedral de Lamego. Fundada em 1129, este monumento gótico ostenta sinais bem visíveis das modificações que foram sendo introduzidas, nomeadamente nos sécs. XVI e XVIII, de onde destacaria o claustro renascentista. Curiosamente, verificámos que, muito ao contrário de muitas vozes, pelo menos por Lamego há uma ideia precisa de qual seja o sexo dos anjos... ... do mesmo modo que apreciámos, nos frisos da porta principal que, na Idade Média, nem tudo era tristeza ou obscurantismo e que, mesmo em lugar sagrado - ou talvez por isso mesmo... - havia boas razões para a vida ser vivida. Da sua grandeza e monumentalidade estamos conversados. E quem não conhece, já sabe onde fica.
Ah, e ali numa ruinha , do lado direito, a uns cinquenta metros, chega-se a uma casa onde nos podemos (e pudemos!) abastecer com a afamada bola de carne de Lamego.
Pela mão da Estela Guedes e numa aprazível esplanada defronte da Catedral fizemos as honras devidas à bola, por entre conversaduras e desconversas...
Faltava-nos, claro está, a inevitável romagem ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios que, recomendou o bom senso e alguma lassidão do corpo, que iniciássemos a visita pelo cimo da escadaria.
Por concepção de Nasoni, a sua construção inicia-se no séc XVIII e termina já com o século XX adiantado.
Deslumbrei-me com dois ancestrais e monumentais castanheiros que ficam no largo lateral ao santuário, um já morto, mas a que as heras conferem um simulacro de vida; o outro pujante, ainda, mas ambos distintos representantes dessa árvore sacra, culto de antigos e pasmo de novos...
«Levantou-se então o Arcebispo de Braga e pondo a Corôa na cabeça a El Rei disse: Bendito seja o senhor Deos, que sempre me ajudou, quando vos livrava de nossos inimigos com esta espada que sustento para vossa defesa» - Primeiras Cortes de Portugal
De novo por bandas do século XII, a visita à Igreja de Almacave, onde se diz que poderão ter tido lugar as primeiras cortes, em Portugal. Da sua antiguidade não restam dúvidas, apesar dos incidentes vários de que foi vítima. Pinho Leal afirma mesmo ter sido a Sé dos Suevos e Godos, até 716, sendo uma Mesquita moura, até 1102.
Desta ocupação lhe advirá o nome estranho e de incógnita procedência.
À noite, de regresso a Britiande e após uma lauta refeição de cabrito assado, fomos escutar, na Casa do Povo, uma palestra de Fernanda Frazão e Gabriela Morais sobre as mouras, o seu significado e interligações com a História de Portugal. Sobre o nosso papel nessa História que vem do fundo dos tempos, a contar-se por largas dezenas de milhares de anos... e o papel dos bardos nesse passar dos anos.
Claro que a sessão foi rematada com poesia, a que se seguiu um passeio nocturno pela povoação.
dia 4 - Em direcção a Tabuaço, pelos caminhos do Pinhão.
O espelho de água do Douro duplica o comboio que nos acompanhou na viagem...
Há quantos anos ando para fazer aquele passeio de comboio ao longo do rio...! Uma verdadeira provocação, tendo por cenário a paisagem única onde a mão do homem moldou cada palmo de terra em seu proveito, pelo seu suor.
Em Tabuaço, uma imponente araucária saudou-nos... E ela só, pois o Turismo, em pleno dia de Domingo, estava encerrado, como em tantas localidades País fora.
Por lá íamos, munirmo-nos de bases documentais para um dos próximos destinos, a Granja do Tedo com a sua muito peculiar história da Maria Coroada.
Mas a porta do Turismo e os nossos narizes foram os únicos a encontrarem-se.
Rezam lendas que dois irmãos cavaleiros, D. Tedon e D. Rausendo, a terão erigido, lá pelos séculos X ou XI. Mais rezam que a moura Ardinga se perdeu de amores por D. Tedon - mesmo sem o conhecer, que os tempos propiciavam os amores platónicos e desesperados - coisa que o senhor seu pai. o emir de Lamego, não teria apreciado sobremaneira, tendo degolado, ali mesmo, a desventurada apaixonada...
Malhas que a história tece e entretece.
Certa é a sua disposição, de costas para o rio Távora e tendo a porta principal e frente - a um metro escasso - de um penhasco, o que nos leva a pensar quão estranhos podem ser os desígnios da razão. Por certa, também, me fica a ideia de que uma vida inteira não chegaria para lobrigarmos o quanto temos de património riquíssimo na sua ancestralidade, nas histórias, contos ou lendas que o envolvem em teias de mistério e de encantamento, que são, afinal, aquilo de que a nossa alma deve ser feita - embora tantos de nós, lamentavelmente, o não saibamos. Alguém falou de que ali, perto da Ermida, haveria uma praia fluvial.
Outro alguém repousou dos árduos caminhos em banco natural, predisposto a arengar às massas de tal palanque... não o tendo encontrado tanto de feição à descida.
A praia fluvial é esplêndida e verdadeiro corolário da lenda da moura Andringa, fazendo-lhe jus com o seu espelho de água onde as escarpas reflectidas assemelhavam o portal para um outro mundo, que Tedons, mouras e emires povoarão, ainda, se o ousarmos cruzar. Para remate deste capítulo, as durezas de castanho e dourado, a guardar o trecho de água, a roubar-nos a vontade de dali sair...
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