Todas as coisas têm o seu mistério
e a poesia
é
o mistério de todas as coisas
Federico García Lorca
Sendo este um BLOG DE MARÉS, a inconstância delas reflectirá a intranquilidade do mundo.
Ficar-nos-á este imperativo de respirar o ar em grandes golfadas.
janeiro 30, 2012
almas que não foram fardadas de Rogério Pereira
É certo que, tendo passado a data, este não se trata de um convite, mas já do anúncio de uma efeméride.
Mas que faz sentido referir. Teve lugar, em 28 de Janeiro de 2012, no Auditório Municipal Maestro César Batalha, nas Galerias Alto da Barra, em Oeiras, o lançamento do livro Almas que não foram fardadas, da autoria de Rogério Pereira, com edição da Associação Espaço e Memória...
... lançamento para o qual fui honrado com convite para integrar a mesa neste dia do seu surgimento.
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Um relato por afectos em tempos de guerra. Angola, nos idos de sessenta, sem nunca perder de vista essa circunstância primeira de se ser humano.
O autor descreve esse seu involuntário destino, degladiando-se entre si próprio, a sua Alma e o seu Contrário, deixando-nos um testemunho original desses tempos que tanto repudiamos, mas testemunho que a todos enriquece.
Por mim, limitei-me a dar voz ao autor, que trazia a sua embargada de acontecimentos.
E lá navegámos todos, entre oMar Arável e este Sete Mares e quantos mais ventos e correntes de feição tiveram artes de nos guiar a bom porto.
O desconcerto da «concertação» II – o benefício da dúvida perante o malefício da dívida
Não me parece que João Proença pudesse fazer outra coisa a não ser assinar aquele «acordo de concertação». E apoio esta afirmação após a apreciação de uma sequência de lógicas, porventura daquelas que o bom senso comum repudia – e ainda bem -, mas que existem e estão aí, como punhos, em que a UGT assume, de algum modo, o actual estado de refém da «troika», que lhe chega pela proximidade, identificação e miscegenização com o PS.
Isto não fará sentido nenhum, se quisermos cultivar ingenuidades estapafúrdias. Mas, numa tomada de posição mais pragmática – senhores, quanto me chateia este termo… - e com maior noção das realidades em que nos atolamos, faz todo o sentido.
Dizer que eu, no lugar de João Proença, não assinaria este nonsense não servirá para nada pela elementar razão de que eu sou eu e o João Proença é ele, por muito lapaliciano que surja este meu arrazoado.
Cristina Carvalho e André Gago trouxeram-nos António Gedeão nas Noites com Poemas
Torga dizia que um poeta não morre, ainda que todos saibamos da relatividade da afirmação perante a dimensão e inexorabilidade do tempo. No entanto, está nas nossas mãos contrariar essas inevitabilidades, adiando-as até ao infinito, através da preservação da memória e a divulgação da sua palavra.
Foi esse exercício de eterno retorno, de tributo e homenagem, que teve lugar na nossa mais recente sessão das Noites com Poemas, pela mão da escritora Cristina Carvalho, que em boa hora se fez acompanhar por André Gago, para nos falar da personalidade e da poesia de António Gedeão, dando alma e emprestando voz aos seus poemas.
Após a recepção e boas-vindas habituais aos presentes, coube a Carlos Peres Feio fazer a apresentação da nossa convidada, Cristina Carvalho, que nos brindou com um outro olhar, mais próximo, mais envolto em afecto, sobre o nosso poeta-cientista-historiador, pedra basilar de referência - ou pedra filosofal, se preferirem - dos amantes da palavra em forma de poema.
A sala - magnificamente preenchida, diga-se e sublinhe-se, com gáudio e orgulho - esteve longe de ter dimensão capaz de acolher tantos interessados.
A tempo e por bem justo merecimento, foi feita a referência devida à filha de peixes que sabe nadar, com referências, também, à obra escrita de Cristina Carvalho.
André Gago foi um contraponto emocionante à amena conversa de Cristina Carvalho acerca do seu pai, dando corpo e voz à poesia, assim a modos como legendando o que ia ficando dito...
Chegou, logo mais, a hora de dar a palavra aos demais circunstantes que, como sempre, corresponderam à chamada, partilhando com todos Gedeão ou o muito particular olhar de cada um sobre este poeta...
- Oeiras Verde com Pedro Faro (guitarra)
- Jograis do Atlântico
- Maria Francília Pinheiro
- David José Silva
- ... com mil perdões, não retive o nome deste autor, com um empolgante poema de actualidade e combate...
- Maria Maya
- Eduardo Martins
- Carlos Pedro
- Emília Azevedo
- Ana Sofia Borlinhas
- Ana Freitas
- No final de uma belíssima sessão, uma imagem de boa parte da equipagem de mais uma navegação cumprida com alegre chegada a bom porto
No nosso (quase, pois já nos faltou mais para tanto...) eterno retorno, vamos iniciar 2012 pelos caminhos da Poesia, nas nossas sessões na Biblioteca Municipal de Cascais, em São Domingos de Rana, no próximo dia 20 de Janeiro de 2012 (sexta-feira), pelas 21h30.
Estará connosco Cristina Carvalho, escritora, filha de peixes que sabe nadar. Com ela trará a Poesia de António Gedeão e dela sempre vos digo, respigando, com a devida vénia a Luís Bento e ao seu blog bento-vai-para-dentro (http://bento-vai-pra-dentro-bento.blogspot.com/2011/09/entrevista-cristina-carvalho.html), excertos de uma entrevista que lhe foi feita:
Cristina Carvalho - «Quanto a mim, o papel da literatura não é explicar o mundo. A literatura é o próprio mundo. Porque são sentimentos, ideais, histórias experimentadas, visitas, efabulações, desenhos de memórias, conquistas, alegria e desespero. A vida pode ser experimentada a cada linha que se lê e sempre diferente, vista por diversos olhares.(…)»
A propósito do seu amor pela Natureza, que rescende da sua obra, Cristina Carvalho dá-nos esta singela definição, começando por parafrasear o seu pai: «(…) A Natureza sou eu. Somos nós, humanidade, os únicos capazes de a compreender e de a amar a ela, Natureza. Sento-me numa pedra ao fim do dia, cruzo os braços no colo e olho para a fina fita do horizonte tentando compreendê-la no seu todo incompreensível. Nunca chegaremos lá, mas somos os únicos que tentamos alcançá-la porque todos os outros já lá estão.»
Sentar-nos-emos, então, a seu lado, na próxima sexta-feira, esperando decerto o vislumbre do raio verde solar, no último momento em que o Sol se põe, prenunciando já a próxima alvorada...
uma vaidade no raiar do novo ano só me pode fazer bem...
Um excelentíssimo começo de ano, se me permitirem imodéstias: - proveniente das Astúrias, um artigo referindo, entre outras coisas, sugestões sobre a poesia contemporânea portuguesa, publicado no blog Las mil caras de mi ciudad, onde o autor, José Luis Campal, me descobriu merecedor de referência, a par de João L. Barbosa, o que ainda para mais me deixa em óptima companhia.
(Artículo exclusivo para el blog Las mil caras de mi ciudad, gentileza del filólogo JOSÉ LUIS CAMPAL)
¿Y ahora mismo? El número de poetas en activo en Portugal seguramente es tan abundante, me imagino, como en nuestro país (y algún día habrá que elaborar un repertorio bibliográfico al uso). Dado que la mejor carta de presentación de los escritores es su propia palabra, aportaré, por mi parte, y sin ánimo de jerarquizar su relevancia en el panorama general de las letras lusitanas, una traducción castellana (excusándome por la inevitable cojera que toda traslación idiomática comporta) de dos concisos poemas pertenecientes a dos creadores contemporáneos de cuya obra tengo excelente opinión: Jorge Castro y João L. Barbosa.
JORGE CASTRO, nacido en Porto en 1952, ha publicado los siguientes poemarios: Sopa de pedras (2003), Odes no Brejo & Alguns pecados (2005), Contra a corrente (Poemas que eu digo) (2005), Coisadas... assim ao correr do poema (2006), Havia trigo (2006), Auto das danações (2007), Poemas de menagem (2008), Ti miséria (2009), Apenas alguns poemas de cordel (2010) y Vinte poemas por amor e uma canção inesperada (2011). Del libro Poemas de menagem (Lisboa, Apenas Livros) vierto a continuación, respetando escrupulosamente la ortografía del original, la pieza «Casi nada en fin de casi todo» (página 33), una reflexión existencial sobre el plan de vida en cuyo espejo más de uno verá quizá reflejados sus íntimos afanes y congojas:
Casi nada en fin de casi todo
se alcanza de cuanto en la vida pretendemos
casi nada más delicado y estrecho
que lo que la línea de un abrazo nos hermana
casi nada o casi todo
y desengaños
serán lazos más unidos que creamos
en la urgencia vital
nos queda el modo
de vivir así mejor
cuando nos entregamos.
JOÃO L. BARBOSA, nacido en 1970, ha publicado los siguientes poemarios: Ninfa (2004), Tejo (2005), Eros (2005), O movimento do pêndulo (2007), Memória da terra (2008), Visíveis a olho nu (2008), O sol quando nasce (2009) y Debaixo de chuva (2011). Del cuaderno Memória da terra (Lisboa, Apenas Livros) vierto a continuación, respetando escrupulosamente la ortografía del original, la pieza «Piel de la tierra» (página 14), en la cual la voz poética ansía fundirse con el elemento telúrico de donde en su día emergiera, borrando las distancias que separan a ambos, hombre y medio:
la tierra labrada.
llego descalzo
de todo, desnudo.
poros con poros
heme aquí cuerpo maduro, fruto
de semilla lanzada en otra tierra
heme aquí erguido,
tronco desnudo de tierra
heme aquí tierra con piel
sobre la piel de otra tierra.
El escrutinio le corresponde ahora al lector. ¿Acaso no sería más que deseable que conociéramos en profundidad la realidad poética portuguesa?
Claro que vim aqui hoje, numa corrida, apenas para vos desejar um excelente ano de 2012.
E, se aceitarem um conselho meu, que seja cada um de vós a construí-lo,
de mãos firmes e peito aberto.
Se escutarem algum habitual anúncio de maior desgraça, não lhes dêem grande crédito.
Perto de mim, estrelícias florescem com um inusitado vigor
e estou em crer que também elas terão notícias da crise...
Por outro lado, o diospireiro desdobra-se em matizes outonais, deixando crescer em si uma diversidade invejável e assazmente criativa. Do ramalhete de folhas acima, apenas uma não é da mesma árvore.
Também o invólucro da fisális, recolhido num canto do jardim e perdida a sua função protectora, nos presenteia ainda com outros encantos, em rendilhados improváveis, que a mais ténue brisa vai desfazer.
Vamos, então, aproveitar exemplos destes alguns que a Natureza oferece, assumindo que esse é muito mais o nosso habitat natural do que esse penoso desviver que querem impingir-nos.
Eu tenciono continuar cada um dos múltiplos desafios que a vida me vai proporcionando.
Mas, em termos de confidência, atenção!
- Olhem sempre com atenção para o que surge escrito nas paredes!